Continuação da greve dos professores da UniverCidade e da Gama Filho poderá ser decidida ainda nas próximas 24 horas Imagem: Divulgação...
Continuação da greve dos professores da UniverCidade e da Gama Filho poderá ser decidida ainda nas próximas 24 horas
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A proposta
Professores e alunos do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade) e da Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro, estão de pés e mãos atadas ante à greve que afeta as duas instituições que fazem parte do grupo Galileo Educacional. Os primeiros, porque trabalham, mas não recebem o que lhes é de direito; os segundos, porque pagam, porém não podem utilizar o serviço comprado: aulas. De certa forma, todos estão como esse 12° arcano maior do tarô: O Enforcado ou O Pendurado (foto 1). A figura é de um homem de cabeça para baixo com um dos pés amarrados numa espécie de tronco e com as mãos para trás, também como se estivessem presas. Outro detalhe interessante é que o personagem faz uma espécie de quatro com uma perna cruzada. O que essa carta representa tem tudo a ver com a atual situação, especialmente no que atinge aos docentes: sacrifício, aceitação do destino, renúncia, submissão do dever, ensino e lição pública. Ainda, de acordo com o “Clube do Tarô” – um site especializado nesse tipo de baralho –, O Enforcado também significa impotência, passividade e projetos duvidosos. É claro que tal interpretação precisaria ser analisada em um contexto com as demais cartas, só que o objetivo aqui não é dar aula de tarô. E o número quatro faz alusão ao destino, escolhas e desafios a serem enfrentados. Mas, o que isso tem a ver com a crise nas duas instituições educacionais??? Tem tudo:
Nas próximas horas, os docentes de ambas as instituições decidirão em assembleia se mantêm a greve ou se a suspendem, aceitando a proposta oferecida pelo grupo Galileo Educacional, nesta terça-feira (12): de março até agosto aceitariam o desafio de receberem apenas a primeira metade dos salários de janeiro a junho. E somente a partir de agosto, receberiam os meses subseqüentes integralmente mais a segunda metade dos salários do primeiro semestre, que seriam depositadas juntos e mensalmente até janeiro do ano que vem. Literalmente, 2014 é um ano de promessas, de um mundo melhor, parece até que todos os problemas do Brasil vão se resolver!!! Às 18h desta quarta-feira (13), os profissionais da UGF discutirão o assunto na unidade da Piedade. Já os da UniverCidade, amanhã (14), no mesmo horário, no sindicato da categoria (Sinpro-Rio).
Alguns professores – cujas identidades serão preservadas – disseram ao OPINÓLOGO não acreditarem muito no novo calendário, uma vez que promessas anteriores de pagamento já teriam sido descumpridas pela nova direção do grupo educacional. Sabe-se, por exemplo, que o 13° salário de 2012, prometido integralmente para o dia 20 de dezembro do mesmo ano, e depois remarcado para o dia 28 de dezembro, só foi pago a partir de janeiro deste 2013. O motivo teria sido um suposto “erro no fluxo financeiro”, informou a Associação dos Docentes da Gama Filho (ADGF). Já o pagamento de dezembro de 2012, programado em duas parcelas para os dias 15 e 30 de janeiro deste novo ano só foi pago nos dias 7 de fevereiro e 5 de março nas mesmas modalidades.
Os culpados sem nomes
Em outro e recente comunicado destinado aos discentes, o grupo gestor informou que estaria fazendo um plano de reestruturação financeira para poder quitar os passivos fiscais e trabalhistas, e também atribuiu os atuais problemas às gestões anteriores, sem citar nomes. Vale lembrar que, a UniverCidade, por exemplo, pertencia ao empresário Ronald Levinsohn, o mesmo que administrava a falida caderneta Delfim, nos anos 80. Enquanto que a Gama Filho, pela família de mesmo sobrenome. Em 2011, essas duas instituições de ensino foram vendidas ao grupo Galileo Educacional – que nasceu do nada –, e era administrado inicialmente pelo empresário Márcio André Mendes Costa. E no final de outubro de 2012, um novo acionista assumiu o controle da Galileo, o pastor Adenor Gonçalves dos Santos.
Para o professor da UGF e representante do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed RJ), Jorge Luiz do Amaral – mais conhecido como “Bigú” no meio acadêmico –, em entrevista à rádio “CBN”, nesta quarta-feira, “não há crise financeira”, ao salientar que esta teria sido “fabricada”, uma vez que os alunos continuam pagando as mensalidades desde 2011, inclusive as duas instituições receberiam dinheiro federal por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni). Para o docente existe uma “crise moral”. Inclusive, falou que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) estaria investigando uma suposta “formação de quadrilha” naquele grupo gestor, e que existe nome e sobrenome para os administradores.
Jorge Amaral foi além, ao criticar a omissão do Ministério da Educação (MEC) e disse que o ex-ministro Fernando Haddad – que ocupou o cargo até janeiro de 2012 – parecia estar mais preocupado com sua campanha do que com o problema nas instituições. E que a mesma postura silenciosa teria acontecido com o sucessor, Aloizio Mercadante. Vale lembrar que, a crise na UniverCidade ganhou bastante destaque em dezembro de 2011, quando os professores estavam com pagamento de novembro em atraso, tendo recebido apenas faltando dois dias para o natal, conforme noticiado em primeira mão pelo OPINÓLOGO.
O mantra: “Cadê o MEC?”
Há bastante tempo, os estudantes têm cobrado uma posição do MEC, que nunca se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Os mesmos – em união com o Sindicato dos Professores do RJ (Sinpro-Rio), dos Médicos (SinMed RJ), associações e diretórios estudantis – estariam promovendo uma campanha “Intervenção do MEC na Galileo”. Tal silêncio também foi questionado na Alerj pelos deputados Paulo Ramos (PDT-RJ) e Robson Leite (PT-RJ), presidente e relator da CPI, respectivamente. Como parte do movimento de chamar a atenção das autoridades ante a crise – colocando o curso de Medicina como ápice –, os alunos do Centro Acadêmico de Medicina Albert Sabin da UGF (Camed) conseguiram enviar um dossiê a Brasília, sendo comentado pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que ressaltou que os problemas na educação superior como um todo.
Sobre a greve
Tanto na Gama Filho quanto no Centro Universitário, a greve começou oficialmente na última segunda-feira (11), após votação em assembleias separadas no último dia 7 de março. A mesma teve adesão parcial e provoca dúvidas aos alunos, que ficam sem saber se seus professores a aderiram ou não. Só que antes mesmo de a greve ser formalizada, os professores de Medicina da Gama Filho – que atuam na Santa Casa da Misericórdia – já tinham optado paralisar as aulas práticas, por não terem recebido até o início de fevereiro nem a primeira metade do salário de dezembro, à diferença dos demais. Como se não bastasse, o convênio entre a universidade e a Santa Casa não estaria sendo pago desde junho de 2011.
Na última segunda e terça-feira, 11 e 12, respectivamente, um grupo de estudantes organizou um manifesto na unidade Madureira, da UniverCidade. Alguns chegaram até colocar nariz de palhaço. Outro protesto estaria sendo agendado, para às 18h30 da próxima quinta-feira (14), em frente à reitoria, no centro do Rio. A vizinhança da Rua Sete de Setembro já até conhece os motivos do ato!!!
Imagem: OPINÓLOGO /
Diego Francisco
Imagem: OPINÓLOGO /
Diego Francisco
Como já foi dito nesta reportagem, os docentes das duas instituições de ensino têm em atraso os salários de janeiro e fevereiro. Como também um terço de férias de 2012 e 2013. Pelo menos na UniverCidade, há outros passivos, tais como: o 13° salário de 2007, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) que não estaria sendo depositado desde 2003, e o não cumprimento da Convenção Coletiva de 2003. Para este último, já tem como garantia um casa (foto 2) na Rua Almirante Sadock de Sá, em Ipanema, que está para ser leiloada. O imóvel vale R$ 3,6 milhões e a dívida é de quase R$ 2,5 milhões. Essa sobra de quase R$ 1,1 milhão poderia ser devolvida ao devedor, contudo este tem outros débitos trabalhistas, portanto, o dinheiro poderia ser usado para tal fim.
Sabe-se também que, tanto na Gama Filho quanto na UniverCidade, a contribuição sindical descontada nos contracheques não estaria sendo repassada ao Sinpro-Rio e também que, as centenas de professores demitidos em dezembro de 2011 somente estariam recebendo o salário de dezembro daquele ano, cuja terceira e última parcela seria depositada a esse sindicato no próximo dia 14. Quanto ao FGTS, multas, entre outros direitos trabalhistas, só Deus sabe quando um dia receberão!!! E em relação aos demitidos em dezembro de 2012, não se tem informação de que tenham recebido.
O grupo Galileo Educacional possui dívidas no valor de R$ 900 milhões, mas só teria receita de R$ 11 milhões, conforme relatado recentemente pelo presidente do mesmo, Alex Farias, durante audiência na CPI da Alerj.
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