Enem 2012: da receita da vergonha ao hino do deboche

MEC muda critério de avaliação das redações com nota mil, após imprensa comprovar falta de rigor nas correções. Da fuga ao tema aos err...

MEC muda critério de avaliação das redações com nota mil, após imprensa comprovar falta de rigor nas correções.

Da fuga ao tema aos erros de português

Depois de a imprensa detectar receita de miojo e o hino do Palmeiras nas redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, o Ministério da Educação (MEC) se viu obrigado a mudar as regras: os textos com nota mil – que é a máxima – “passarão obrigatoriamente pela banca, composta por três doutores”, informou, nesta sexta-feira (22/3), cuja medida passará a valer a partir de 2013. O tema do ano passado era ‘Movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI’, cujas provas foram aplicadas no dias 3 e 4 de novembro passados.

Das 2.084 redações que tiveram a pontuação máxima, pelo menos 330 teriam ‘inserções indevidas’. “Nas notas máximas, nós queremos excelência. Por isso, não basta os dois primeiros corretores darem nota mil, queremos que automaticamente a banca avalie se a redação vale nota mil”, enfatizou o ministro Aloizio Mercadante.

Na semana passada, veio à tona os seguintes casos: o de um estudante que tirou 560 pontos na prova de redação, tendo incluído o modo de preparo desse macarrão instantâneo; e o de outro que obteve 500 pontos por ter adicionado trechos do hino do time paulistano. A mídia teve acesso às mesmas, após ter solicitado ao MEC a visualização dos textos que teriam alcançado a nota máxima, noticiou “O Globo”.

Mesmo com uma banca da aparente excelência e composta por professores de mestrado e/ou doutorado, que pela primeira vez recebeu treinamento de 100 horas, ainda assim as correções deixam a desejar. Pois, estes também teriam deixado passar em branco erros como ‘rasoável’ (que se escreve com z), ‘enchergar’ (que se escreve com x) e ‘trousse’ (que se escreve também com x), cujos textos também tiveram a pontuação mais alta. Está bem claro que houve erros de português, e que não se trata de nenhum ‘regionalismo’ para tentar argumentar o que não tem argumento, sendo, portanto, motivo suficiente para que os vestibulandos já não recebessem tal nota. Compreende-se que, ‘errar é humano’ e que pequenas falhas poderiam passar despercebidas em relação às três palavras citadas, contudo, fugir do tema, aí já é demais!!! Das duas uma: ou os corretores, sem generalizar, são analfabetos funcionais – leem, mas não interpretam, – ou são incompetentes. Ao todo, seriam mais de cinco mil corretores, e cada um destes profissionais receberia algo em torno dos R$ 2 por cada redação corrigida.

“Se for uma provocação, deboche, brincadeira, é inaceitável para a seriedade de um exame como este, principalmente diante do esforço que o Estado brasileiro faz e os outros candidatos fizeram para passar”, acrescentou Mercadante.

A verdade é que esses dois candidatos prestaram um grande serviço ao país, por mostrar que ainda existem fragilidades no Enem, que mesmo sendo hoje o maior vestibular, falta rigor nas correções e está longe de ser o mais perfeito possível e digno de credibilidade. O zero que eles não tiraram deveria ser dado a certos profissionais da banca.

Falhas, mais falhas...

Por incrível que pareça, o Enem já traz em sua fórmula uma receita de vergonha, que ecoa num hino de dúvidas e deboches. Em 2009, por exemplo, o jornal “Estado de São Paulo” denunciou um esquema de venda de provas por cerca de R$ 500 mil, a poucos dias da realização do mesmo. Já em 2010, cerca de 33 mil cadernos de respostas da prova amarela estavam com erros de impressão, cujo cabeçalho estava invertido. Sendo então, 21 mil deles substituídos. Daí, aquela ‘guerra’ de liminares para tentar anular o exame.

Outra grande verdade é que a crise na educação brasileira seria supostamente um reflexo de sua mais alta patente: em 2011, um livro de matemática distribuído pelo MEC para escolas da zona rural das séries primárias continha erros grotescos, tais como: 10-7=4, 16-8=6 e 16-7=5. Sem contar o de português, como: ‘nós pega o peixe’. E em 2007, um livro de geografia recomendado pelo órgão foi barrado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, porque exibia um mapa do tráfico de drogas na região. Publicar tal coisa é no mínimo reconhecer a existência de um poder paralelo, o que é inadmissível para o Poder Público!!!

Portanto, fica uma questão: como fugir desse círculo vicioso???