Sindicatos e agremiações estudantis farão uma campanha, para que o governo federal tome uma atitude ante o caos que enfrentam. Imagem: ...
Sindicatos e agremiações estudantis farão uma campanha, para que o governo federal tome uma atitude ante o caos que enfrentam.
Imagem: Divulgação
Depois de mais de um ano em silêncio no que diz respeito à crise que afeta a Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), no Rio de Janeiro, o Ministério da Educação (MEC) poderá ter de rompê-lo: a comunidade acadêmica – formada por estudantes, associações, diretório estudantil e pelos Sindicato dos Professores (Sinpro-Rio) e dos Médicos (SinMed RJ) – poderá fazer com que o órgão se posicione oficialmente sobre o tema e aja. Eles pretendem criar a campanha “Intervenção do MEC na Galileo”. Apesar de não terem divulgado detalhes, os quais começarão a ser decididos esta semana, imagina-se que seja para ser propagada nas redes sociais e em eventos públicos. A decisão foi tomada na última sexta-feira (1/3), durante assembleia dos docentes de Medicina da Gama Filho na Santa Casa da Misericórdia, de acordo com o Centro Albert Sabin dos Estudantes de Medicina da Gama Filho (Camed).
Os discentes da área de saúde, por exemplo, reclamam do não pagamento por parte do grupo gestor ao convênio que tem com a Santa Casa da Misericórdia, que não estaria sendo feito desde junho de 2011, fazendo com que as aulas práticas fossem recentemente paralisadas. Os docentes de Medicina não receberam até agora os salários de dezembro do ano passado e de janeiro de 2013, tampouco um terço das férias que têm direito.
Já os demais professores da UGF e os da UniverCidade, ambas controladas pelo mesmo grupo, receberam a primeira metade do salário de dezembro de 2012 no último dia 7 de fevereiro.
Pra completar, os professores da UGF ameaçaram entrar em greve já na próxima quinta-feira (7), se nenhum pagamento for feito até a véspera (6). Eles se posicionaram sobre isso durante uma assembleia na manhã desta segunda-feira (4), no campus da Piedade. Alguns alunos disseram ao OPINÓLOGO que os compreendem, apesar de estarem temerosos de que o calendário de aulas seja prejudicado. Já os da UniverCidade vão discutir o tema às 14h da próxima quinta-feira (7), em assembleia no Sinpro-Rio.
Uma campanha para tirar o MEC de sua aparente “inércia” pegaria muito mal para o próprio órgão, que tem o dever de fiscalizar as instituições de ensino deste país. No Brasil não há outra entidade que o faça, diferente de outros setores de serviços que possuem agências reguladoras para isso, tais como: telefonia (Anatel), energia (Aneel), vigilância sanitária (Anvisa), petróleo (ANP) etc. Inclusive, a suposta inatividade do Ministério também está sendo questionada na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que apura supostas irregularidades nas faculdades privadas fluminenses.
O não pagamento só é um dos problemas reclamados. Entre eles estariam a suposta falta de insumos básicos como produtos de higiene e até papel higiênico, a má qualidade do acesso à internet nos computadores da faculdade, a tentativa do super aumento nas mensalidades em janeiro do ano passado, o fechamento de unidades, demissões em massa, entre outras coisas, de acordo com o Diretório Central Estudantil da UniverCidade (DCE-UC).
Jogando a responsabilidade para os outros
Sabe-se que o grupo Galileo Educacional enviou um comunicado – abaixo, na íntegra – aos docentes, na última quinta-feira (28/2), jogando a responsabilidade pelos atrasos salariais aos próprios e aos alunos:
“Prezados Professores,
Infelizmente, a notícia de convocação para prestar depoimento em CPI instituída pela Alerj causou forte abalo para concretização de aporte de recursos que haviam sido captados no curso de um trabalho de 20 (vinte) dias, esses recursos já estavam programados para efetuar os pagamentos dos compromissos assumidos com o quadro de docentes. A disponibilização dos recursos foi suspensa para nova análise de cenários das instituições. Nesse momento, estamos reconstruindo nossa argumentação enaltecendo as qualidades técnicas de nossos docentes e a forte marca das instituições.
O quadro atual é muito delicado, qualquer manifestação causa descrédito o que gera insegurança de alguns investidores, sendo certo que esses são fundamentais em nosso processo de reestruturação.
Temos absoluta certeza que os atrasos nos salários traz profundos transtornos, o que lamentamos e nos desculpamos. Contudo, é importante ter em mente que estamos buscando a recuperação e a reestruturação para equacionar esse e muitos outros problemas, o momento é de união e sacrifícios, se não houver essa consciência estamos fadados ao insucesso e consequentemente ao encerramento das atividades, o que certamente gerará a perdas de milhares de postos de trabalho.
Informamos que teremos uma reunião na sexta-feira dia 01.03.13 às 13:00 H, quando teremos um posicionamento sobre a retomada de negociações sobre os recursos que já havíamos conseguido e foi suspenso. Após a preconizada reunião passaremos novas informações sobre a data para liquidação das pendências relativas ao saldo de salário de dezembro e o integral de janeiro.
Por oportuno, informamos que em razão da precária situação cadastral da Galileo, UGF e UC (UniverCidade), não conseguimos alugar nova unidade na Barra da Tijuca, sendo assim, os alunos serão remanejados para Piedade.
Por derradeiro, consignamos que o momento é muito crítico, eventuais movimentos bruscos podem comprometer ainda mais esse péssimo cenário. Atualmente precisamos urgentemente de união de esforços para sairmos dessa situação caótica. Informamos que estamos concluindo um plano de reestruturação que será apresentado até no máximo dia 20.03.2013 visando a preservação das atividades das IES (Instituição de Ensino Superior) e consequentemente manutenção de milhares de postos de trabalhos diretos e indiretos.
Cordialmente,
Alex K. Bezerra Porto Farias
Diretor Presidente”
O comunicado acima parece mais uma punição do que uma justificativa, pelo fato de o caso estar ganhando repercussão midiática. Porque os estudantes pagam suas mensalidades religiosamente.
Pode ter aluno que reclame de uma possível greve, no entanto, é importante salientar que seu contrato é com a faculdade, não com o professor, que por acaso também tem contrato com ela!!!
Dívidas
Não é novidade pra ninguém que a nova direção do grupo Galileo Educacional – cujo acionista majoritário é o reverendo Adenor Gonçalves dos Santos, da Igreja Batista – já comprou duas instituições bastante problemáticas. Os débitos vêm desde antes de ambas passarem a ser administradas pelo atual grupo gestor. Só não dá para saber se as coisas ficaram iguais ou se pioraram. Antes de ser adquirida pelo pastor no final do ano passado, o controle da Galileo estava nas mãos do empresário Márcio André Mendes Costa, que a administrou por mais de um ano antes de repassá-la.
Pelo menos com essa nova gestão houve mais diálogo, o que faltou na anterior, que poderia ter evitado, por exemplo, a interrupção das aulas na UniverCidade por mais de 40 dias.
Conforme dito pelo presidente do grupo, Alex Farias, no último dia 26 de fevereiro, numa audiência da CPI, as dívidas da Galileo chegariam a R$ 900 milhões, sendo que a receita, de apenas R$ 11 milhões.
Espera-se que um dia essa crise seja sanada, não só pelos alunos que pagam suas mensalidades, e pelos professores que tentam cumprir suas funções, mas pelo que as marcas representam no mercado universitário, estando entre algumas das melhores deste país e cujo esforço precisa ser feito para valorizar o diploma dos que nelas estudaram.
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