UniverCidade deve pelo menos R$ 700 mil ao Sinpro-Rio em contribuições que nunca foram repassadas; MEC recebe novas denúncias por parte do ...
UniverCidade deve pelo menos R$ 700 mil ao Sinpro-Rio em contribuições que nunca foram repassadas; MEC recebe novas denúncias por parte do sindicato.
Professores da Universidade Gama Filho (UGF) e do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade) – ambas no Rio de Janeiro e administradas pelo grupo Galileo Educacional – decidiram prorrogar por pelo menos até a próxima semana a greve. Esta foi iniciada na última segunda-feira (11) em ambas Instituições de Ensino Superior (IES) A decisão foi tomada em assembleias separadas, na última quarta-feira (13/3) e quinta-feira (14), respectivamente.
Na UGF
Em uma assembleia extremamente lotada, a categoria rejeitou a proposta de pagamento por parte da gestora, aguarda uma nova e disse que promoverá ação judicial contra a empresa.
O evento teve seu momento tumultuado, quando um suposto negociador da mantenedora pediu voz à plenária e não soube responder a inúmeros questionamentos feitos, como a razão para receberem de tal maneira. Sua presença foi subentendida pelos presentes como um gesto de ‘zombaria’. Na proposta apresentada, os docentes receberiam apenas 50 por cento dos salários de cada mês – referentes a janeiro até junho –, e só a partir de agosto teriam à disposição o valor integral mais a segunda metade parcelada dos salários do primeiro semestre que seriam quitadas até o início de 2014.
Sabe-se que, vários professores do curso de Direito, na unidade Candelária, ainda não aderiram à greve.
Um novo encontro foi marcado para às 18h da próxima terça-feira (19), no campus da Piedade.
Na UniverCidade
Em uma assembleia com mais gente do que de costume, os presentes afirmaram que não houve uma ‘proposta’, porque esta precisaria ser negociada, mas sim uma programação de pagamentos, classificando-a de ‘imoral’, ‘indecente’ e ‘desrespeitosa’. A mesma já foi apelidada de ‘Pagamento Casas Bahia’ por dois motivos: primeiro em alusão ao marketing promovido por uma grande rede varejista de mesmo nome que dizia “quer pagar quanto?”; segundo, pelo fato de o acionista majoritário, o pastor Adenor Gonçalves dos Santos, ter nascido naquele estado nordestino.
Os professores ainda acrescentaram que só negociaram com o grupo educacional mediante o depósito integral dos pagamentos de janeiro e fevereiro de 2013.
“Como um investidor compra um fusca sem rodas e sem motor e só descobre isso depois???”, indagou um docente sobre o fato de o novo acionista ter adquirido uma empresa cujos débitos chegam a R$ 900 milhões e tem receita mensal de apenas R$ 11 milhões.
Em entrevista ao OPINÓLOGO, o presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio), Wanderley Quedo, transmitiu uma mensagem aos profissionais que ainda não aderiram à suspensão das atividades: “[A greve] não se trata apenas de uma questão salarial, mas uma resistência pela garantia das condições de trabalho e pela educação e uma luta contra a ‘financeirização’ da educação. Temos que ser solidários, porque é uma situação que afeta a todos”.
“Tem muito aluno criticando a gente [professor] por fazer greve. O grupo Galileo está propondo apenas pagar metade dos salários. Queria ver se eles [os estudantes] iriam aceitar meia aula ou que a gente desse a matéria e A1 e só aplicássemos a A2 depois que recebêssemos a outra metade em agosto!!!”, comentou uma professora ao OPINÓLOGO, que pediu para não ter o nome revelado. A1 e A2 são as duas avaliações/provas.
Uma nova assembleia está marcada para às 18h da próxima quarta-feira (20), no Sinpro-Rio. Lá, os presentes irão votar a possibilidade de um grande ato público com a união entre os professores das duas IES, além de sindicatos de outras categorias que fazem parte do quadro funcional, como o Sindicato dos Médicos (SinMed RJ), por exemplo.
Ainda tem gente que pergunta o porquê de as assembleias da Gama Filho e da UniverCidade serem separadas. Na verdade, tratam-se de empresas distintas juridicamente, com passivos trabalhistas diferentes e para que os profissionais de uma instituição não influenciem na decisão da outra.
Protestos
Um pequeno grupo de estudantes das duas IES fez uma manifestação em frente à sede da reitoria, na noite desta quinta-feira (14). Na unidade Piedade, da UGF, também houve outro evento semelhante nessa mesma data.
O ‘incompreendido’
Em um blog/site chamado “Cecília Bahia”, o reverendo Adenor dos Santos teria dito que lamentava não estar sendo compreendido por uma pequena parcela da comunidade acadêmica sobre a questão dos atrasos salariais, e que não era o culpado pelas ‘mazelas’ nas duas IES: “(...) lamento a falta de conhecimento e compreensão por parte de uma minoria de professores e alunos, mas acredito que o perdão leva a perfeição e o trabalho digno e honesto leva ao sucesso. Perdoo a todos que me acusam, por falta de conhecimento, e agradeço a 99% dos professores, alunos e familiares que, apesar de todo esse momento conturbado, acreditam neste projeto e creem que com a ajuda de Deus voltaremos a ser uma instituição marcada pela excelência, tradição e qualidade”, expressou.
Na verdade seria mais do que isso: não se trata de confiança, mas de desconfiança. Primeiro, pelo fato de o grupo Galileo Educacional não ter cumprido por várias vezes o cronograma de pagamentos. E isso não é apenas agora em 2013 com a nova gestão. Muito antes de a UniverCidade entrar em greve em abril do ano passado, supostas datas de pagamentos foram divulgadas e não teriam surtido efeito, o que acarretou uma perda de credibilidade nas palavras dos antigos diretores; segundo, porque os profissionais têm receio de aceitarem a programação de pagamento de apenas 50 por cento e no final do primeiro semestre serem demitidos e ficarem ‘vendo navios’. Vários docentes criaram uma fixação de que se parassem de trabalhar, a IES poderia falir. E mesmo tendo o pastor chegado há apenas quase cinco meses, ocorrendo mudanças parciais na direção, a empresa é a mesma e a ‘dança das cadeiras’ teria se tornado comum.
A nova direção do grupo Galileo Educacional possui um diferencial em relação à anterior: esteve mais aberta ao diálogo, não exatamente com quem deveria de fato – o Sinpro-Rio –, mas com a Associação de Docentes da UGF (ADGF). Entretanto, cometeu um pecado: nunca se apresentou de fato e diretamente aos professores, que deveriam ser os principais parceiros da instituição e com quem precisavam estabelecer uma relação de confiança, perdendo assim uma grande oportunidade. Talvez, a situação hoje fosse outra!!! Muita gente até hoje só conhece o pastor Adenor dos Santos ou o presidente Alex Farias de nome. Até um condutor de metrô ou um motorista de ônibus interestadual se apresenta/identifica aos passageiros antes de iniciar uma viagem, só no grupo Galileo que não!!! Vale lembrar que, quando houve recente mudança no Conselho de Administração, que o grupo gestor enviou um comunicado à comunidade acadêmica para informar o mesmo. Aparentemente, uma apresentação pode não significar nada, mas para quem consegue enxergar um pouco mais, subentende-se que isso é coisa de quem está comprometido a prestar um bom serviço.
Já no MEC...
O Sinpro-Rio apresentou recentemente uma série de denúncias à Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) – órgão subordinado ao Ministério da Educação (MEC) –, tais como: os atrasos salariais nas duas IES; o caos no curso de Medicina da Gama Filho, no que se refere, por exemplo, ao não pagamento do convênio com a Santa Casa da Misericórdia, o que prejudica o internato; a troca sucessiva de reitores na Gama Filho, que foi alterada pelo menos cinco vezes nos últimos dois anos. Para esse sindicato, o feito “gera instabilidade no projeto acadêmico” e “acarreta prejuízos à qualidade da formação”; docentes da UniverCidade lecionando na UGF e vice-versa com contrato de trabalho em só uma das IES. Mesmo ambas pertencendo ao grupo Galileo Educacional, as duas instituições de ensino são juridicamente distintas e possuem naturezas diferentes: a UniverCidade é um centro universitário, enquanto a Gama Filho, uma universidade; além da transferência de cursos da UniverCidade para a UGF, como os de Biologia Ambiental e Enfermagem, no início de 2013. Os alunos tiveram que assinar um termo de transferência compulsória que não lhes dava nenhum tipo de desconto, porém os de Biologia só o aceitaram mediante um acordo com a mantenedora: que a grade curricular não fosse alterada até o início do próximo ano.
Apenas para deixar clara a diferença entre centro universitário e universidade: o primeiro tem autonomia para criar, organizar e extinguir cursos e uma determinação fração de docentes com mestrado e doutorado; enquanto o segundo, além dessas coisas, pode investir em pesquisa acadêmica, de acordo com dados do MEC.
O deputado Robson Leite (PT-RJ) iria pedir ao MEC a intervenção no grupo Galileo Educacional, publicou o jornal “O Globo”. Ele é o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga supostas irregularidades em IES privadas fluminenses. No documento que está sendo preparado para ser entregue ao MEC e ao Ministério Público (MP) nos próximos 30 dias, há, por exemplo, denúncias de supostos estelionato e formação de quadrilha por parte da mantenedora.
Em nota ao jornal “O Globo”, o Ministério teria dito estar acompanhando a situação e as denúncias que lhes foram apresentadas. Sem se referir quem seriam os autores, supõe-se que sejam o Sinpro-Rio e o SinMed RJ e os diversos estudantes, que estabeleceram para si próprios um novo ‘propósito religioso’: encher as caixas de e-mail do órgão com reclamações até que se tome alguma providência.
Dívidas
Além dos débitos já conhecidos por todos, sabe-se que apenas a UniverCidade deve pelo menos cerca de R$ 700 mil em contribuições sindicais e assistenciais, que não foram repassadas ao Sinpro-Rio, embora continuem sendo descontadas religiosamente em folha, o que poderia ser visto como uma suposta apropriação indébita. Todavia, a cifra pode ser muito maior do que se imagina. Em relação à Gama Filho, não se tem informações até o presente momento sobre isso. As demais dívidas são: no caso das duas IES, atrasos salariais de janeiro e fevereiro de 2013, o pagamento dos 33 por cento das férias de 2012 e 2013, o depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o pagamento de salários e demais tributos trabalhistas aos demitidos de 2011 e de 2012; na UniverCidade, o pagamento do 13° salário de 2007, o repasse das contribuições ao INSS desde 2003, o pagamento e o descumprimento da Convenção Coletiva de 2003. Para esta última, já existe como garantia uma casa em Ipanema que poderá ir a leilão, avaliada preliminarmente em R$ 3,6 milhões, cujo débito é de quase R$ 2,5 milhões; na UGF, o 13° salário de 2009 e também um terço das férias de 2011.
Ainda, de acordo com o sindicato dos professores, os colégios Cidade e Gama Filho, pertencentes à UniverCidade e à UGF, nessa ordem, também estariam em situações semelhantes.
O grupo Galileo também deve ao Banco Mercantil um empréstimo de R$ 100 milhões, que foi emitido em títulos de debêntures, dando como garantia a receita de seis anos do curso de Medicina da Gama Filho.
O grupo Galileo também deve ao Banco Mercantil um empréstimo de R$ 100 milhões, que foi emitido em títulos de debêntures, dando como garantia a receita de seis anos do curso de Medicina da Gama Filho.
Reclamações dos alunos
Além de se queixarem contra a falta de aulas, os estudantes das duas IES criticam uma suposta de conservação e de produtos de limpeza, até mesmo falta de papel higiênico em determinadas ocasiões. Pelo menos no atual momento não há problema deste. No ano passado, logo após a greve, quando aconteceu isso, um grupo de estudantes de Teatro teria começado a vender o pedaço de papel higiênico a R$ 0,15, porém teria sido barrado pelos seguranças. Os discentes também reclamam do acesso internet, que seria supostamente lento. A mesma seria interligada à Rede Rio, vinculada com o governo do Estado e demais IES fluminenses. E mencionam uma suposta falta de manutenção dos elevadores. Pelo menos no campus Ipanema – da UniverCidade – os elevadores dos prédios B e C já deixaram a desejar em diversas vezes, fazendo com que muita gente desistisse de esperar – pelo fato de em alguns momentos um só funcionando em cada, tendo que subir pela rampa ou escada, respectivamente. Já no primeiro edifício supramencionado, por exemplo, os elevadores vão até o sexto andar. Quem desejar ir até o sétimo, onde algumas aulas são ministradas, precisa subir de escadas. Ao todo são três prédios em Ipanema, denominados: A, B e C, todos na Rua Almirante Sadock de Sá, sendo que o B (o principal) possui uma entrada para a Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Outra coisa que acontecia e era no mínimo inusitada nas aulas de Rádiojornalismo, que ocorrem no sexto andar do prédio B. Algumas vezes, outro som – que não era o dos microfones dos alunos, criando um programa de rádio – se fazia presente e incômodo: o do sapateado dos alunos de Dança ou Teatro no andar de cima. Espera-se que isso já tenha mudado!!!
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