Domingo, 16 de junho de 2013 Brasileiros protestam por causa das obras da Copa do Mundo e do aumento nas passagens de ônibus, e pensam que...
Domingo, 16 de junho de 2013
Brasileiros protestam por causa das obras da Copa do Mundo e do aumento nas passagens de ônibus, e pensam que 'acordaram'.
Brasileiros protestam por causa das obras da Copa do Mundo e do aumento nas passagens de ônibus, e pensam que 'acordaram'.
Imagem: Agência Brasil - Marcelo Casal Jr. /
Reprodução / Creative Commons
Policiais do DF jogando gás lacrimogênio, durante manifestação contra a Copa do Mundo, no sábado (15). |
O Brasil está vivenciando atualmente um daqueles instantes de (des)encantamento político: são protestos de todos os lados. Primeiro, por causa da realização da Copa das Confederações de 2013 e os preparativos para o Mundial para o ano seguinte; e segundo, o aumento no preço das passagens de ônibus nas principais cidades do país.
As manifestações opositoras aos eventos esportivos já aconteceram em várias capitais e são justificadas pelos elevados investimentos na construção e reforma de estádios e de vias, em detrimento à dura e cruel realidade da educação, da saúde e de tantas outras coisas que os brasileiros sempre suportaram calados, e no momento, como moeda de sacrifício, para que seus governantes pudessem fazer bonito para os gringos. É como um pai pobre que tira o único pedaço de pão do filho para num gesto educado ofertá-lo ao visitante rico de sua 'humilde' residência. Mas, isso sempre ficou claro desde que o país foi escolhido em 2007 para sediar as competições.
Já as revoltas contra o aumento das passagens ocorreram no início do ano, em Porto Alegre. E agora, em São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras cidades. Na capital paulistana, por exemplo, a tarifa do metrô e dos ônibus subiu de R$ 3 para R$ 3,20, enquanto os ônibus na capital carioca, de R$ 2,75 para R$ 2,95. Os organizadores do Movimento Passe Livre (MPL) alegam que não estão brigando por apenas R$ 0,20, e sim pela qualidade nos transportes públicos. Desde então, São Paulo e Rio de Janeiro já foram palcos de vários confrontos: de um lado a polícia tentando dispersar os milhares de manifestantes com gás lacrimogênio e balas de borracha; do outro, esses indivíduos anônimos que foram tachados de 'vândalos' e de 'baderneiros' por estarem resistindo. Não é novidade para ninguém que os veículos são superlotados, estão em péssimas condições e poucos possuem sistema de ar condicionado, por exemplo. Portanto, o preço que se paga para andar nos transportes coletivos não faz jus à qualidade dos mesmos.
Imagem: Agência Brasil - Tânia Rêgo /
Reprodução / Creative Commons
Reprodução / Creative Commons
Protesto no centro do Rio, no último dia 13/6, contra aumento das passagens. |
É lógico que não é só por apenas R$ 0,20. Se bem que, para um trabalhador informal ou um estudante que paga passagem, ida e volta dão R$ 0,40 por dia. Em 20 dias úteis (um mês) de trabalho, a soma chega a R$ 8.
Nessa confusão toda sobrou até para quem não tinha nada a ver: para os profissionais da imprensa que cobriam o caso, como da Folha de São Paulo, Terra etc. Alguns teriam sido detidos e/ou presos por policiais, inclusive sob a acusação ridícula de 'formação de quadrilha' e/ou de 'dano qualificado', enquanto que outros, vítimas de ataques de quem deveria protegê-los, nos últimos dias 11 e 13 de junho. Em nota, a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) cobrou à ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, uma investigação contra as 'brutalidades' e as 'graves violações das liberdades constitucionais' cometidas pela Polícia Militar de São Paulo.
A Anistia Internacional disse ver com preocupação o aumento da violência nas manifestações paulistana e carioca e o discurso das autoridades sinalizando uma 'radicalização' da repressão. “É fundamental que o direito à manifestação e a realização de protestos pacíficos seja assegurado. A Anistia Internacional é contra a depredação do patrimônio púbico e atos violentos de ambos os lados e considera urgente o estabelecimento de um canal de diálogo entre governo e manifestantes para que se encontre uma solução pacífica para o impasse”, declarou.
Imagem: Léo Sanchez /
Cedida por Marcela Lima ao OPINÓLOGO
Cedida por Marcela Lima ao OPINÓLOGO
“Dane-se a Copa”, escreveram manifestantes em cartazes, em Montreal (Canadá). |
Em nota, a Executiva Municipal petista de São Paulo disse sempre defender a legitimidade das manifestações populares, como as que estão sendo registradas naquela cidade, e aproveitou a ocasião para atacar a Polícia Militar, que está sob administração do rival Partido Socialista Democrático Brasileiro (PSDB). E acrescentou que a presidenta Dilma Rousseff já teria dado os primeiros passos para baixar as tarifas, desonerando PIS e Cofins e o ICMS sobre o diesel usado nos transportes públicos.
Se antes o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não tinha a intenção de negociar com os manifestantes, enquanto houvesse violência, sua opinião poderá ser outra. A situação está saindo do controle – da opinião pública – e repercutindo no exterior, principalmente pela mídia. Esses indivíduos que eram vistos como meros depredadores de patrimônio público, agora são reconhecidos por lutarem por uma causa. Brasileiros residentes em cidades como Montreal (Canadá) e Dublin (Irlanda), por exemplo, fizeram manifestos, neste domingo (16/6), em apoio aos que aqui fazem o mesmo, no que diz respeito ao reajuste das passagens. Nessa cidade europeia, os organizadores informaram haver cerca de duas mil pessoas, que cantaram o hino nacional e estavam com cartazes, alguns deles escritos: 'desculpe pelo transtorno, estamos melhorando o país'. Outros eventos desse tipo estão marcados para os próximos dias na Cidade do México (México), Boston (EUA), Bruxelas (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), entre outras.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) – ligada ao Governo do Estado – realizará uma reunião com representantes do MPL, na próxima segunda-feira (17). E no dia seguinte (18), esse mesmo Movimento será convidado a apresentar suas propostas numa reunião do Conselho da Cidade, convocada pela Prefeitura paulistana.
Imagem: Agência Brasil - Tomaz Silva /
Reprodução / Creative Commons
Reprodução / Creative Commons
Nas proximidades do Maracanã, neste domingo (16). |
No Rio, por exemplo, houve confrontos em áreas próximas ao estádio do Maracanã, neste domingo (16), momento que ocorria a partida entre Itália e México, e se estendeu até a Quinta da Boa Vista, no bairro vizinho de São Cristóvão. Ao que parece, o caso está sendo ignorado pela Prefeitura e pelo Governo fluminense, que até a publicação desta notícia não havia divulgado nada em seus respectivos sites.
Como muitos sabem, a presidenta Dilma Rousseff e o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, foram vaiados, nesse sábado (15), durante abertura da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, com a partida entre Brasil e Japão. Percebe-se claramente que as vaias divergem da pesquisa CNT/MDA, que afirmou na semana passada que ela teria mais de 70 por cento de popularidade, enquanto seu governo, um pouco mais de 52 por cento. No entanto, o que surpreende é que os mesmos brasileiros que a vaiaram são os que compraram ingressos caros para assistir a um jogo.
Parafraseando um amigo – cujo nome será preservado –, o que resta agora é o governo criar dois novos programas: 'Minha vaia, Minha Sina' (uma paródia do 'Minha Casa, Minha Vida') e o 'Bolsa Aplauso' (uma paródia ao 'Bolsa Família').
Ainda está muito cedo para dizer que o Brasil 'acordou', como já falam por aí os manifestantes. Tampouco que está começando sua 'primavera'. Aqui nesse país, reações de insatisfação como as que se têm visto são que nem catapora: só acontecem uma vez na vida. Por enquanto, tudo não passa de um 'patrioti(mi)smo', ou seja, um tipo de patriotismo otimista, nada mais. Não se está questionando os protestos. Todavia, o brasileiro está anos-luz para conseguir de fato despertar. Existem outros assuntos importantes que não estão sendo observados, tais como: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n° 33/2011, que visa submeter as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) à aprovação no Congresso Nacional; e também a PEC 37/2011, que quer tirar o poder de investigação do Ministério Público (MP) e deixá-lo unicamente a cargo das polícias. Nota-se que ambas Propostas buscam descaradamente inibir o estado democrático de direito e deixar o país pior do que já está. A aprovação da PEC 33/2011, por exemplo, poderia permitir aos deputados federais e senadores que se opusessem ao STF na questão do julgamento do Mensalão, que condenou vários políticos do Partido dos Trabalhadores (PT), o do governo, tais como os deputados federais José Genoíno e João Paulo Cunha – integrantes da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara – e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Imagem: Alessandra Delorentte /
Cedida por Andrea Cordeiro ao OPINÓLOGO
Cedida por Andrea Cordeiro ao OPINÓLOGO
Em Dublin (Irlanda), manifestantes repetem o refrão diário de todos os brasileiros. |
Não se viu, por exemplo, nenhum protesto em massa por causa do Mensalão – considerado o maior roubo aos cofres públicos –, que deveria ser interesse de todos. Entretanto, é possível lembrar de alguns, como o da história de uma madrasta que teria jogado a enteada de seis anos do sexto andar de um edifício, em São Paulo. O assunto não era da conta de ninguém, era um problema particular, e já tinha a polícia e o MP cuidando disso. Mas, a população o tornou questão pública, ao usar os réus – a madrasta e o pai – como bodes expiatórios, para compensar toda uma história de fracasso, frustração, injustiça e negligência do país. E essa situação se repete com os jogos e as passagens, só que dessa vez com um sentido de realidade.
Leia também:
O "gigante" voltou a dormir
O verdadeiro 'legado' da Copa do Mundo no Brasil
O 'vírus' da manifestação
O que se escuta nas ruas do Brasil???
Brasil: um país além do futebol
Não é esquizofrenia, é indignação mesmo!!!
COMMENTS