'Deus' nunca esteve no controle do grupo Galileo Educacional

Segunda-feira, 13 de janeiro de 2014 UniverCidade e UGF são descredenciadas pelo Ministério da Educação Aconteceu o que já era previs...

Segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

UniverCidade e UGF são descredenciadas pelo Ministério da Educação

Aconteceu o que já era previsto: o Ministério da Educação (MEC) descredenciou o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade) e a Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro, ambas administradas pelo grupo Galileo Educacional. A decisão foi tomada, na noite desta segunda-feira (13/1), após a primeira reunião da comissão criada na semana passada e formada por representantes do Órgão e dos alunos das duas instituições de ensino superior (IES).

“A decisão foi tomada pelo colegiado superior da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres). Os motivos foram a baixa qualidade acadêmica, o grave comprometimento da situação econômico-financeira da mantenedora e a falta de um plano viável para superar o problema, além da crescente precarização da oferta da educação superior. 

Com o agravamento da crise das duas instituições nos últimos anos, o MEC tomou um conjunto de medidas de supervisão em 2012 e 2013, com o objetivo da superação das deficiências. Diante do descumprimento por parte da mantenedora do Termo de Saneamento de Deficiências acordado, o MEC instaurou, em dezembro de 2013, processo administrativo para aplicação de penalidades, com prazo de 15 dias para a defesa. Apresentada a defesa, o ministério analisou a manifestação e os demais elementos constantes da supervisão e concluiu pelo descredenciamento de ambas as instituições com o objetivo de preservar o interesse dos estudantes e da sociedade por uma educação superior de qualidade”, justificou o MEC.

Nota do grupo educacional

Em nota, o grupo Galileo Educacional considerou a decisão 'injusta' e 'arbitrária'. Segue-a na íntegra:

1. O Grupo Galileo vem a público manifestar seu repúdio ao descredenciamento da Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade).

2. Trata-se de uma decisão injusta e arbitrária, que leva o caos a duas das mais tradicionais e respeitadas instituições de ensino superior do Rio de Janeiro.

3. A Galileo Educacional já havia apresentado um amplo projeto de reestruturação junto ao MEC, contemplando a retomada das atividades acadêmicas e regularização dos salários de professores e funcionários.

4. O patrimônio imobiliário do grupo é suficiente para cobrir os passivos financeiro, fiscal e trabalhista das duas instituições. A liquidação destes passivos vinha sendo coberta com a emissão de debêntures.

5. O descredenciamento põe em risco o emprego de 1.600 professores e cerca de mil funcionários administrativos, além de colocar em risco o futuro de milhares de estudantes.

6. A direção do grupo vai recorrer da decisão junto ao próprio MEC, além de acionar as instâncias judiciais cabíveis.

Galileo Administração de Recursos Educacionais S.A”

Também era injusta a situação de alunos e professores. Os primeiros pagavam as mensalidades, porém os segundos não conseguiam receber pelo trabalho realizado. Os gestores disseram que pretendem recorrer.

Pedido de socorro ao MP

Também nesta segunda-feira (13), representantes do sindicato dos docentes (Sinpro-Rio) junto ao deputado estadual Robson Leite (PT-RJ) e da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) haviam se reunido no Ministério Público, para pedir algum tipo de solução para a crise que se arrastava por mais de dois anos, inclusive uma possível intervenção. O conteúdo do encontro não foi divulgado. O petista é o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que investigou supostas irregularidades em IES fluminenses.

Nota do grupo gestor antes do descredenciamento

Mais cedo, antes de o MEC tomar tal decisão, o grupo Galileo Educacional chegou a divulgar nota, dizendo que as duas IES não seriam encerradas.

“A GALILEO EDUCACIONAL, mantenedora da Universidade Gama Filho, mesmo diante das dificuldades pelas quais vem passando, busca sob todas as formas a recuperação das instituições. 

As IES não serão encerradas, logo estarão com suas atividades normalizadas (sic). 

A Diretoria Executiva vem tratando diretamente com o sindicato de classe e a associação docente das IES a possibilidade de estabelecer acordos que possam antecipar a regularização da operação, assim como, procura readequar a infraestrutura e segurança dos seus Campi”.

O mesmo texto foi utilizado para o centro universitário, mudando apenas o nome da instituição.

A saga continua...

A retirada da licença de prestação de serviço educacional não representa o fim dos problemas para os discentes. Eles ainda passarão por um processo de transferência para concorrentes, mas com a greve e/ou paralisação de funcionários administrativos têm dificuldades de retirar documentos como histórico, entre outros.

A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) divulgará em até cinco dias úteis um edital para convocar IES concorrentes para a Política de Transferência Assistida (PTA). O processo é o semelhante ao realizado com os estudantes da Faculdade Alvorada, no Distrito Federal. Para participar desse programa, as instituições precisam oferecer preços e condições semelhantes às oferecidas pelas IES descredenciadas, além de bolsas de estudos e de manter programas governamentais como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), por exemplo.

Reação de alunos e professores

Pelas redes sociais, alunos e ex-alunos, além de docentes, lamentam o descredenciamento.

“Não sabemos nem o que falar. Mas nós investimos num sonho, e quem poderia nos ajudar só nos prejudicou. O MEC sabia desde a chegada da Galileo quem eles eram e mesmo assim nos colocou nas mãos deles. O Ministério da Corrupção sabe o erro que cometeu, e nada fez para consertar. Estaremos entregues à própria sorte? A nossa luta não pode parar! A educação não pode ser tratada como mercadoria, as IES privadas estão abandonadas! Não vamos parar! Esta semana a nossa presidenta da República declarou em seu twitter que nunca se investiu tanto em educação! Hipocrisia! Vamos mostrar a ela e ao Brasil a grande omissão que cometem!”, disse o Diretório Central Estudantil da UniverCidade (DCE-UC).

“O MEC realizou seu sonho de descredenciamento. O Governo Brasileiro acabou com duas instituições de ensino numa época que importamos trabalhadores. Alguém parou para pensar que isso é uma estratégia? Acabam com a maioria das universidades do Brasil, sucateia o ensino. Assim temos justificativa para trazer estrangeiros.  Isso é um acordo internacional! Os países Europeus e etc. estão em crise, não têm vagas para empregar os seus, mandam para cá. Você ainda vai votar na Dilma e no PT? PT NUNCA MAIS! (sic) Vamos fazer campanha na campanha deles contra eles. Vamos acabar com esses coronéis! Democracia já quero estudar e ter qualidade! Quero repeito a vontade do povo!”, declarou ao OPINÓLOGO a estudante de Direito da Gama Filho, Julliene Salviano.

“Estou muito triste com esta situação. Estou decepcionada com o descaso do MEC para conosco. Onde vai parar este país? Onde passar a perna no outro virou de grande facilidade no estalar dos dedos. Como vai ficar a situação de todos? Entreguei meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) esta sexta-feira agora com esperança de poder me formar e de pegar meu diploma. Sabe Diego, meu pai não teve a oportunidade que eu estou tendo. Meu pai, um pai maravilhoso, quis me proporcionar um futuro brilhante com uma formação superior digna de qualidade. Minha pergunta é: Como tudo pode acabar assim? Tem que haver uma investigação da Polícia Federal para saber o que esses caras fizeram com nosso dinheiro. Foram mais de 20 mil reais investidos. E cadê? Quatro anos inteiramente dedicados a faculdade, a busca pelo crescimento, e vem um grupo que some com nosso dinheiro e o MEC vem e joga uma toalha por cima. Como assim? Até o momento não estou vendo ninguém lutar pela gente. A não ser o DCE e nós mesmos. Essa situação é muito triste. No dia que eu vi os computadores sendo levados, tive aquela sensação de perda. Uma tristeza. Como se estivesse perdendo alguém que fez parte da sua vida e que está se perdendo no mundo aos poucos”, manifestou a estudante de Publicidade e Propaganda da UniverCidade, Izabelle Carvalho.

“Me sinto frustrada, decepcionada! A Medicina sempre fora um sonho e, pra estudar na Gama [Filho], abri mão dos estudos no curso de Direito na UFRJ pra ir pra Gama Filho! Sem contar que minha mãe e minha tia estudaram na Gama! É muito triste receber a notícia do descredenciamento! Quando recebi a notícia pela TV me senti recebendo um comunicado de falecimento!  Agora, além de ter perdido o período 2013.2, minha angústia é que a transferência seja demorada e que eu perca ainda mais períodos! Sou bolsista do Prouni, então, pra mim não é fácil estudar num curso integral que não me permite trabalhar! É isso. Desespero total, insegurança e medo de que todo o esforço não tenha valido à pena!”, comentou com tristeza a estudante de Medicina da UGF, Fabiana de Castro.

“Minha situação é muito peculiar. Não sou bolsista do Prouni, e sim do Banco Carioca, um programa municipal de bolsas de estudos. A Prefeitura tinha um convênio com a UniverCidade, e agora não sei como ficarei. Não acredito que o MEC vá resolver meu caso. Amanhã procurarei a Secretaria Municipal de Educação para tentar saber alguma coisa”, afirmou a estudante de Jornalismo da UniverCidade, Natália Aquino.

“Sempre achei que a única salvação do caos desse país fosse a educação. No dia de hoje, com tal postura do ministro da Educação, Aloízio Mercadante, ao descredenciar a Universidade Gama Filho e a UniverCidade, vejo que o MEC é mais um órgão do governo COMPRADO, assim como quem o comanda! (sic) O descredenciamento das duas IES é simplesmente inaceitável, vergonhoso e só mostra que o órgão intitulado Ministério da Educação não entende NADA de educação. Qualquer ser humano com o mínimo de bom senso tem noção do que é deixar mais de 10 mil alunos sem aulas, sem um campi. Qualquer pessoa inteligente sabe que em três meses não se transfere essa quantidade de alunos, muito menos os dois mil de Medicina. A situação que nós, alunos;  futuros graduados e ex alunos nos encontramos é absurda! Indignação e vergonha são as palavras que descrevem o meu sentimento hoje”, falou Kallandra do Carmo, que começou o curso de Biologia pela UniverCidade, mas acabou se formando pela UGF, após o mesmo ter sido transferido de IES.

“Estou indignada com a notícia do descredenciamento da UniverCidade pelo MEC. Ver quatro anos de investimento em minha educação superior serem queimados em rede nacional foi duro!!!”, contou Suely Vieira, formada em Publicidade e Propaganda pelo centro universitário, em alusão aos comentários negativos feito pela mídia em relação ao caso.

Em nota, a Associação dos Docentes da UGF (ADGF) criticou o descredenciamento, ao alegar que a medida estaria cheia de 'argumentos falaciosos'. Lembrou, inclusive que a IES teria uma boa avaliação no Índice Geral de Cursos (IGC), que é três. A nota máxima é cinco.

Luto é a uma palavra que descreve bem o atual momento, marcado de tristeza para alunos e ex-alunos das duas IES. Alguns deles chegaram até este jornalista e perguntaram o que seria agora do diploma deles, se isso teria algum impacto negativo no mercado de trabalho, por exemplo. Outros já choraram, porque viram seus sonhos irem pelo ralo.

Vale frisar que agora então é que fica realmente mais difícil de funcionários e ex-funcionários receberem salários atrasados. Os docentes que continuam na ativa não veem a cor do dinheiro desde setembro. Os demitidos entre 2011 e 2012, por exemplo, nunca conseguiram pegar tudo que lhes era devido.

Manifestação

Se antes a manifestação organizada por discentes das duas instituições tinha por objetivo apelar à opinião pública pelo não descredenciamento, agora terá caráter de protesto contra o que se concretizou. O evento está marcado para às 17h30 dessa terça-feira (14), com ponto de concentração na Candelária, no Centro do Rio.

Sobre o grupo gestor

Entre 2010 e 2011, surgiu do nada o grupo Galileo Educacional, na época pertencente ao empresário Márcio André Mendes Costa. Ao final de setembro de 2012, a mantença foi transferida para o pastor Adenor Gonçalves dos Santos. Houve a partir de então grande expectativa por conta disso, tendo em vista que o empresário teria outros negócios como rádios, na área hospitalar, petrolífera, da construção civil, entre outras. Pelo visto foi em vão pensar que tinha dinheiro para sanar a crise do grupo. Conclui-se com isso que 'Deus' nunca esteve no controle do grupo educacional.

Durante o período em que o líder religioso esteve no comando da empresa, ele nunca apareceu para conversar com a comunidade acadêmica para tentar acalmá-los, por exemplo, sempre se mantendo afastado da situação.

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