Quinta-feira, 22 de janeiro de 2015 Imagem: Freepik / Uso gratuito / Reprodução Bandeira da Argentina O Centro de Informação Jud...
Quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Imagem: Freepik / Uso gratuito / Reprodução
Bandeira da Argentina |
O Centro de Informação Judicial (CIJ) da Argentina divulgou na íntegra, na noite dessa terça-feira (20/1), a denúncia do falecido promotor do Ministério Público Alberto Nisman contra a presidente Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman, entre outros políticos e membros da inteligência do governo. No documento de 289 páginas, o fiscal afirmou que os citados estariam, supostamente, forjando provas para inocentar representantes do governo iraniano, em comum acordo com os mesmos, no ataque à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), uma comunidade judaica, e a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (Daia), em 1994, que deixou em 85 mortos e 300 feridos.
Consta no relatório que o atentado terrorista foi, supostamente, promovido pelo grupo terrorista Hezbollah a mando das autoridades persas. E que o governo de Cristina Kirchner tenta encobrir a culpa em troca de 'restabelecer' relações comerciais. O acordo, ainda não concretizado, resultaria na compra de petróleo por Buenos Aires, e como contrapartida a venda de grãos, além de armas.
“A decisão deliberada de encobrir aos acusados de origem iraniana pelo atentado terrorista de 18 de julho de 1994, como surge das evidências encontradas, foi tomada pela cabeça do Poder Executivo Nacional, Dra. Cristina Elisabet Fernández de Kirchner e instrumentada, principalmente, pelo ministro de Relações Exteriores e Culto, Sr. Héctor Marcos Timerman”, declarou Nisman.
Entre os acusados estão o ex-presidente Ali Akbar Rafsanjani e o diplomata Mohsen Rabbani, por exemplo. Em algumas ocasiões, a nação sul-americana tentou retirá-los da lista, mas a entidade policial rejeitou o pedido, o que teria dificultado as negociações. Tal inclusão também os impede de viajar para outros países, uma vez que poderiam ser presos.
Timerman negou as acusações, e reafirmou que a nação latino-americana pediu em determinadas ocasiões para que o alerta vermelho aos acusados fosse mantidos.
Buenos Aires chegou a pedir a Teerã a prisão, para fins de extradição, dos acusados. Mas, foi inútil. Inclusive, queixou-se em determinada ocasião na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2010.
No último domingo (18), o representante do Ministério Público foi achado morto com um tiro na cabeça no banheiro de casa, no bairro Puerto Madero. No dia seguinte (19), ele apresentaria perante o Congresso provas (documentos e áudios de ligações telefônicas) do suposto envolvimento da chefe de Estado e de outras autoridades. A versão que está sendo difundida, preliminarmente, é de que ele teria se suicidado, embora a autópsia não detectou vestígios de pólvora em suas mãos. Também não está descartada a possibilidade de que alguém o tenha 'suicidado', uma vez que a imprensa local fala que ele chegou a receber ameaças.
Nisman também falou em confabulação 'criminosa', que sacrificaria a Justiça e enganaria a população com uma campanha de descrédito da versão oficial dos acontecimentos, manipulação de familiares das vítimas e sobreviventes do atentado, influenciar a opinião pública com o uso da imprensa, que validaria o discurso estatal. Entre os negociadores da suposta farsa está o diplomata iraniano Mohsen Rabbani – considerado foragido pela Justiça bonairense –, que é informado constantemente dos avanços do acordo.
O procurador disse que a 'Comissão da Verdade' – com aspas mesmo – firmada entre Argentina e Irã, em 2013, por meio de um memorando de entendimento para investigar o episódio, já estaria 'arranjada' para não investigar nada, e sim, legitimar a mentira. Para Nisman, as negociações iam além do proposto em tal documento.
“Também se provará que o plano de impunidade idealizado pela Sra. Presidente da Nação incluiu uma mudança de hipótese e um redirecionamento da investigação do caso AMIA para 'novos acusados', fundado em provas falsas e destinado a desvincular definitiva e fraudulentamente os acusados iranianos (…) Sabiam que a 'Comissão da Verdade' não tinha sido criada para investigar absolutamente nada, senão para legitimar a mentira que estava sendo fabricada”, sustentou o fiscal.
A retórica iraniana sempre foi negar tais acusações e de falar em contribuir para identificar os 'verdadeiros culpados', e que as acusações tinham sido 'orquestradas' por autoridades submissas ao sionismo, em cooperação com agências de inteligência dos Estados Unidos e de Israel.
A líder argentina se pronunciou sobre as acusações. Os comunicados, por escrito, falam mais sobre si própria do que lamentar de fato a morte do promotor. Também disse que não se prestaria ao 'show midiático do fiscal Alberto Nisman e dos meios de comunicação que o promovem em respeito às vítimas'.
Cristina Kirchner questionou o fato de o promotor público estar com um revólver calibre 22, quando o prédio onde morava tinha 10 agentes da Polícia Federal para lhe garantir proteção – no momento de morte, eles não estavam presentes por suposta ordem da vítima – e câmeras de vigilância, por exemplo.
“Quem poderia acreditar que alguém que tinha uma grave denúncia institucional contra a presidente, seu chanceler, que professa a fé judia e é judeu (…) saiu de férias e de repente a interrompe e em plenas férias judiciais, sem avisar ao juiz da causa, apresenta uma denúncia de 350 páginas que, evidentemente, já estava pronta com antecedência?”, indagou a mandatária.
Em nota, a Amia disse que a morte do procurador representa um 'golpe de alto impacto à causa', e cobrou que os responsáveis pelo atentado sejam submetidos à justiça.
A Anistia Internacional também se pronunciou sobre o incidente. Lembrou que vários familiares das vítimas recorreram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA por não conseguirem justiça na Argentina. E instou uma investigação 'exaustiva e independente' sobre a morte do promotor.
Com a morte de Nisman, vários meios de comunicação estão dando ênfase a revelações feitas pelo site Wikileaks, em 2010, de uma estreita relação com a Embaixada dos Estados Unidos na Argentina sobre o ataque terrorista. Inclusive, de que antes mesmo de apresentar denúncias e documentos à justiça, a entidade diplomática seria consultada.
Na última segunda-feira (19), um grupo de manifestantes foi às ruas para protestar contra o falecimento do fiscal.
Caso se confirmem as denúncias de Nisman, se poderia dizer que a Argentina, supostamente, sofre uma espécie de Síndrome de Estocolmo – ou de Oslo, em sua variante –, pelo fato de a vítima se associar a seu opressor.
Leia também:
Argentina: deputada da oposição denunciará Cristina Kirchner por 'encobrir' morte de promotor
Argentina: Governo divulga paradeiro de jornalista que deixou o país para não morrer
Argentina: jornalista que divulgou em primeira mão a morte de promotor deixa o país
Argentina: criam paródia musical com Cristina Kirchner a respeito da morte de promotor
Leia também:
Argentina: deputada da oposição denunciará Cristina Kirchner por 'encobrir' morte de promotor
Argentina: Governo divulga paradeiro de jornalista que deixou o país para não morrer
Argentina: jornalista que divulgou em primeira mão a morte de promotor deixa o país
Argentina: criam paródia musical com Cristina Kirchner a respeito da morte de promotor
COMMENTS