Terça-feira, 10 de fevereiro de 2015 PT comemora 35 anos em meio a escândalos de corrupção O abaixo-assinado Imagem: PT / Wik...
Terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
PT comemora 35 anos em meio a escândalos de corrupção
O abaixo-assinado
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Uma estrela vermelha se consumindo |
As metáforas não param por aí: dita ciência afirma que as estrelas jovens são azuis e mais quentes que o sol. Elas entram em combustão rapidamente até ficar vermelhas. Depois dessa metamorfose – não se pode chamar isso de 'evolução' –, o pouco de gás que as resta é gasto vagarosamente, o que ocasiona uma vida-longa, até chegarem ao processo final de supernova, isto é, a morte de uma estrela. Das duas uma: a supernova pode dar origem a uma nova estrela anã branca ou a um buraco negro. Este, com seu elevado poder gravitacional, absorve a luz e provoca deformação no espaço-tempo. A estrela do PT não chegou a ficar azul. No entanto, se consumiu em seu próprio ego e está se colapsando nos escândalos aos quais se meteu, e tenta, com o pouco de fôlego que armazena, prolongar sua existência:
Na data de seu aniversário, inicia uma campanha nacional de coleta de assinaturas, em diretórios cujas cidades têm mais de 200 mil habitantes, para propor a reforma política almejada pela legenda e pela presidente Dilma Rousseff. Mais do que uma tentativa de resposta à onda de protestos que tomou conta do país entre 2013 e 2014, seria uma grande distração política e uma reinterpretação a bel-prazer das manifestações. Pois, as ruas não pediram constituinte exclusiva ou coisa que a valha, e sim o combate à corrupção, à impunidade, melhorias na saúde, na educação, na segurança pública, o não reajuste das tarifas nos transportes públicos, além de criticar a gastança em obras para a Copa do Mundo de 2014.
O objetivo é alcançar mais de 1,5 milhão de assinaturas até o próximo dia 30 de junho, para entregá-las ao Congresso ainda no primeiro semestre de 2016. “A expectativa é, nesse dia 10, dar um upgrade na nossa campanha”, salientou a vice-presidente nacional do partido, Gleide Andrade. O ano seguinte será movimentado por eleições municipais (prefeito e vereadores) e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro.
Vale lembrar que em setembro passado, durante a celebração de Independência, foi criada uma petição online pela reforma política com o apoio de ONGs simpatizantes ao governo. A data foi proposital: mexer com o sentimento de nacionalismo do povo brasileiro que costuma avivar-se somente no futebol. Talvez o que não se saiba é que a mesma foi criada pelo Instituto Cultivar, em São Paulo, cujo telefone cadastrado no Registro.br – entidade que controla a internet no país –, na época, era o do Departamento de Publicidade e Propaganda do portal noticioso 'Brasil de Fato'. O referido instituto também é dono do site 'Cuba Hoy', que faz proselitismo barato aos ditadores Castro e Hugo Chávez.
Acusações
O partido festejou seu aniversário na última sexta-feira (6), em Belo Horizonte (MG). A escolha foi mais do que apropriada: Minas Gerais foi um estado decisivo na reeleição de Dilma Rousseff, quem derrotou o rival tucano Aécio Neves em seu próprio domicílio eleitoral, mesmo tendo este sido governador por dois mandatos consecutivos. Rousseff, por sua vez, tem domicílio eleitoral no Rio Grande do Sul, embora seja mineira de nascimento; além disso, é a primeira vez que o PT governa Minas Gerais.
Sob o lema 'Estes filhos teus não fogem à luta' – em alusão ao trecho semelhante do Hino Nacional 'veras que um filho teu não foge à luta' –, o evento contou com militantes como a atual chefe de Estado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e convidados ilustres como o ex-mandatário uruguaio José Mujica. Em discurso, Lula ignorou as constantes denúncias contra seu partido ao falar em boataria, campanhas de ódio e de 'criminalização do PT' por parte da imprensa. “O critério da mídia é a criminalização do PT desde que chegamos ao poder. Não importa se é verdade ou mentira”, afirmou. Não custa nada lembrar que as citações à legenda em supostas roubalheiras se deveram a investigações feitas pela Polícia Federal e de confissões feitas por alguns dos acusados. Inclusive, os réus do Mensalão foram julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tendo vários deles sido condenados e alguns já soltos, graças a brechas na legislação vigente ou por estarem, supostamente, com problemas de saúde. Privilégios que 'ladrões de galinhas' não têm.
“O PT vai ter que voltar pra luta (...)”; “Não podemos permitir que quem não tem moral, venha dar moral na gente”, continuou Lula, aproveitando-se da ocasião para convocar a militância a defender o governo de sua sucessora. Será que a sociedade não tem moral para isso??? Quando ela mesma vai se defender???
“A oposição, após a eleição, tentou aplicar um golpe. E as tentativas contra nós não cessaram. A mídia golpista tenta nos desestabilizar, investem contra a Petrobras, com o objetivo de fragilizar a empresa e aniquilar com a política de conteúdo nacional e afastar a Petrobras do controle único do pré-sal e forçar a privatização da empresa”, acusou o ex-mandatário.
Dias após a vitória nas urnas, no ano passado, eleitores anti-PT de algumas cidades foram às ruas pedir o impeachment de Rousseff, apesar de ter vencido democraticamente; também criaram um abaixo-assinado no site da Casa Branca, instando a intervenção do governo dos Estados Unidos contra o 'bolivarianismo' no país. Neste caso, perderam o senso do ridículo; e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) requereu uma auditoria nos votos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teve de acatar para não gerar mais desconfiança no processo eleitoral.
Às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, a revista 'Veja' publicou que tanto Lula quanto Dilma Rousseff, supostamente, estavam a par das falcatruas na Petrobras. Tal reportagem motivou o Partido dos Trabalhadores a falar novamente em 'democratização da mídia'. Esse é um dos métodos que pretende usar na luta contra o que chama de 'golpismo', censura disfarçada em regulamentação econômica em nome da liberdade de expressão e blá, blá, blá. Sempre que se tenta justificar a medida, usa-se exemplos de países como o Reino Unido, porém nunca a vizinha Venezuela, que fechou emissoras de rádio e TV e perseguiu as opositoras ao Chavismo. Porque, no fundo sabe-se que democracia no dos outros é refresco. Controlar os meios é um sonho antigo.
Já o presidente do partido, Rui Falcão, acusou a oposição de 'flertar com o golpismo' e de, supostamente, forçar a privatização da estatal petroleira, que se tornou alvo de um escândalo sem precedentes, o que já provocou sua desvalorização perante o mercado e investigação até nos Estados Unidos, visto que a empresa negocia ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Seguem alguns trechos de seu discurso:
“(...) O embate estendeu-se para além do segundo turno, quando a oposição, inconformada com a derrota, chegou a flertar com o golpismo. E a fúria antigoverno e anti-PT não cessou, haja visto o contínuo ataque comandado pela mídia monopolizada.
A oposição e seus veículos de comunicação empenham-se em disputar os rumos da política econômica, tentando impor um programa alternativo ao que foi escolhido pelo povo brasileiro nas urnas.
Ao mesmo tempo, investem contra a Petrobras, não com o fito de combater a corrupção – como os governos Lula e Dilma sempre fizeram. Mas com o objetivo de fragilizar a empresa e, assim, de um só golpe, aniquilar com a política de conteúdo nacional, de afastar a Petrobras da condição de operadora única do pré-sal e de fazer regredir o regime de partilha para o regime de concessão. E, em última instância, forçar a privatização da empresa, como tentaram fazê-lo durante o governo FHC (…)”
PT x PT
Quase metade do eleitorado brasileiro se opôs ao PT. 51 milhões votaram em Aécio Neves. Outros 54 milhões, em Dilma Rousseff. Isso descartando os votos nulos e em branco. Quase metade do país está de mal com o PT. O PT está de mal do PT...
Provas disso foram as últimas polêmicas envolvendo a senadora petista Marta Suplicy: 1) em recente entrevista ao 'Estadão', disse: “Ou o PT muda, ou acaba”. Também tachou o ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante de 'inimigo de Lula', e disse que ele era 'candidatíssimo' a presidente da República em 2018, mas que teria contra si a arrogância e o autoritarismo; 2) em novembro passado, deixou o cargo de ministra da Cultura, quando Dilma Rousseff estava fora do país, com uma carta de despedida com críticas indiretas à condução da economia e à gestão do governo.
“(...) Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera (...)”, manifestou a parlamentar petista, uma incentivadora do retorno de Lula ao Palácio do Planalto e, possivelmente, candidata a prefeita de São Paulo, em 2016. Não se sabe se concorrerá pelo PT.
A sensação que se tem é que as críticas de Marta Suplicy ao PT e o apoio a Lula são intencionais, numa suposta tentativa de distanciar a imagem dele aos escândalos nos quais o partido está metido e aos mandatos de sua afilhada política: Dilma Rousseff. Durante sua campanha em 2010, Lula dizia que Dilma era a continuidade de seu governo. Agora, de certo modo, busca-se separar o PT atual do PT de raiz, não que um seja melhor que o outro, porque ambos são o mesmo, mas em lados diferentes: o primeiro está no poder, enquanto o segundo era oposição e flertava por ele com um romantismo político peculiar.
Não existe essa coisa de que o PT não é mais PT. Para chegar ou manter-se no poder, fez alianças esdrúxulas, por exemplo: com o deputado federal Paulo Maluf, apontado pelo Ministério Público por supostos crimes de improbidade administrativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas; e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que deixou o cargo em 1992 num processo de impeachment. Há um velho ditado que diz que os fins justificam os meios.
Em janeiro último, foi a vez do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos réus do Mensalão, criticar a política econômica adotada por Rousseff. Mais uma mostra de que o PT está de mal com... o PT.
“Vencer este desafio vai exigir do PT um renascimento, uma retomada de valores de nossas origens, entre os quais a ideia fundadora da construção de uma nova sociedade”, reconheceu o presidente Rui Falcão, em referência ao projeto político do partido.
A supernova
'Nunca na história deste país', um partido tinha provocado ódio e repulsa. Talvez o PT os tenha conseguido, e por mérito próprio. Ainda assim, não pode ser visto como a causa dos problemas do Brasil, embora se inseriu neles. Pois, vários deles já existiam antes mesmo de chegar ao poder.
O PT surgiu quando faltavam cinco anos para o fim da Ditadura Militar (1964-1985), com a promessa de ser o partido pela democracia, o de transformar utopia em realidade e em defesa dos trabalhadores, como sugere o nome. No apagar das luzes de 2014, os trabalhadores foram surpreendidos com duas medidas provisórias que dificultaram a obtenção de direitos como o abono salarial, o auxílio-desemprego, pensão por viuvez, entre outros. Tudo o que se disse que seria feito por Aécio Neves, caso fosse eleito, foi cometido por 'Aécio Rousseff', um vilão que baixou na presidente Dilma.
Cansada de um longo período de censuras, uma deposição presidencial – de Collor – logo após o retorno da democracia, de inflação elevada e juros altos, a população resolveu dar um voto de confiança ao partido, elegendo um metalúrgico como presidente. Isso depois de 22 anos de sua criação. Imaginava-se que pior do que estava não ficaria. Mas, ainda no primeiro mandato, o PT deu mostras de que era apenas mais um partido, farinha do mesmo pacote. A suposta compra de parlamentares, batizada de Mensalão, foi conhecida alguns anos mais tarde. E o suposto desvio de recursos em contratos da Petrobras para o caixa do partido, de Petrolão. Só para deixar claro: não existem provas, até o momento, do conhecimento e/ou participação de Lula e Dilma em todo esse imbróglio. Note-se que não se faz julgamento aqui. Mas, o simples fato de o partido ser citado em tais casos soa, no mínimo, constrangedor.
O brilho que não foi capaz de demonstrar durante três décadas e meia de existência talvez seja obtido por supernova. Mas, isso fica pendente ao tempo que permanecer no poder e a atitudes.
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