Terça-feira, 17 de fevereiro de 2015 Empresas espanholas estariam ameaçadas de expropriação, se não melhorassem a imagem da Venezuela p...
Terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Empresas espanholas estariam ameaçadas de expropriação, se não melhorassem a imagem da Venezuela perante os meios de comunicação europeus
Imagens: Stockvault / Uso gratuito / Arte: OPINÓLOGO
Chantagem ou colonialismo inverso? |
Representantes de multinacionais espanholas – Telefónica, Iberia, Repsol, Mapfre, Air Europa, Meliá e BBVA – teriam participado de uma reunião no Palacio Miraflores, sede do governo da Venezuela, na quinta-feira passada (12/2), onde foram, supostamente, ameaçadas de expropriação, caso não pressionassem o Palacio de la Moncloa – sede do governo europeu – a por fim à campanha de desprestígio à nação latino-americana perante os meios de comunicação, noticiou o diário 'ABC'.
A suposta chantagem, acrescida de censura, teria sido feita pelo vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza – genro do falecido mandatário Hugo Chávez –, o vice-ministro de Relações Exteriores, Calixto Ortega, e o presidente da Corporação Venezuelana de Comércio Exterior (Corpovex), Ramón Gordils, segundo o espanhol 'El País'.
Até o momento, não se soube de nenhuma contestação por parte do governo venezuelano em relação a tais acusações.
Tal pressão se deve à recente reportagem de 'ABC', de que o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, deputado Diosdado Cabello, o número dois do Chavismo, teria suposto vínculo com o narcotráfico, conforme narrado por seu ex guarda-costas Leamsy Salazar, que fugiu via Madrid para os Estados Unidos, onde denunciou à Administração para o Controle de Drogas (DEA, na sigla em inglês). Ele também foi segurança de Chávez até sua morte, em 2013.
Portais de notícia independentes e críticos ao governo, como El-Nacional, Tal Cual e La Patilla, teriam sido ameaçados por Maduro e Cabello por ecoarem a matéria de 'ABC' sobre o tráfico de drogas.
No início deste mês, a organização Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex), em Miami, nos Estados Unidos, classificou a gestão do atual governante Nicolás Maduro de 'narcogoverno', por tentar proteger autoridades supostamente envolvidas em cartéis de drogas, em carta entregue a parlamentares estadunidenses.
Para completar, 'ABC' divulgou, nessa segunda-feira (16), em edição impressa, que o governo sul-americano financiaria a atividades e membros do Podemos, um partido político de esquerda que promete dar muita dor de cabeça ainda aos espanhóis. De 2002 a 2014, a legenda teria recebido ao menos 3,7 milhões de euros em ONG sem fim lucrativo por assessoramento político, complementou 'El País'.
Suposto golpe de estado
No mesmo dia que promovia uma reunião com empresas europeias, o governo caraquenho contava ter descoberto um suposto plano de golpe de estado, com direito a bombardeio sobre o Palacio Miraflores, orquestrado pelos norte-americanos. Nenhuma prova foi apresentada. Os Estados Unidos se tornaram uma espécie de vilão prático para Hugo Chávez e Nicolás Maduro, da mesma forma que o Ruivo Hering era para o Fred no desenho Scooby-Doo.
A quinta-feira, 12 de fevereiro, coincidia com o aniversário do protesto anti-Maduro que deixou pelo menos 43 mortos e mais de 1.400 feridos, e resultou na prisão do oposicionista Leopoldo López, ex-prefeito de Chacao. Muitos dos que participaram de manifestações, entre janeiro e abril de 2014, seriam estudantes, que estão presos.
É preciso abrir um parêntese para explicitar que os protestos no país vizinho não podem ser comparados com os que ocorreram no Brasil entre 2013 e 2014, apesar dos atos de vandalismo em ambos, alguns deles resultando em mortes. Porque, lá, eles sabiam o que queriam e porque lutavam. Aqui, não. Começou contra um simples reajuste de R$ 0,20 nos transportes públicos e se mesclou à gastança aos preparativos da Copa do Mundo de 2014. O combo de indignação popular incluiu problemas na saúde, educação, segurança pública, a institucionalização da impunidade e da corrupção, mas no fim provou-se que tudo foi por meros R$ 0,20. A vitória de certos políticos nas eleições do ano passado, o silêncio generalizado perante a suposta roubalheira na Petrobras, ademais da restrição a certos direitos trabalhistas pela presidente Dilma Rousseff, por exemplo, demonstraram isso. Brasileiros não fizeram política. Foram usados para fazer politicagem e serem instrumentos de manipulação em massa. Pensava-se que aqui o povo tivera saído de seu estado de esquizofrenia, mas, na verdade, tudo não passou de histeria coletiva.
Ainda não está claro se tal tentativa de golpe na Venezuela realmente aconteceu ou se foi algo, supostamente, criado por autoridades latino-americanas, diante da repercussão negativa sobre o suposto envolvimento de membros do governo em atividades ligadas ao narcotráfico. Um novo escândalo pode encobrir e provocar o esquecimento de um anterior. Ou poderia ser também que as autoridades venezuelanas quisessem causar nova distração ao povo para justificar sua atuação desastrosa na economia, nos direitos humanos, entre outros.
Em nota, o ditador nicaraguense, Daniel Ortega, se solidarizou com seu homólogo venezuelano a respeito da suposta tentativa de golpe. “Estamos com vocês, Nicolás, Cilia (a primeira-dama), em todos os momentos, e nestes em particular, em respaldo incondicional a todas as suas decisões e, em denúncia permanente de criminosos e inúteis tentativas do Império, de reduzir à Revolução Bolivariana, forjando golpes, conspirações e traições, em seus eternos, invariáveis planos de submissão, destruição e morte”, disse.
O governo sírio também repudiou o suposto plano de golpe. Segue a íntegra do texto:
“A República Árabe Síria seguiu com preocupação a conspiração estadunidense tramada contra a amiga República Bolivariana da Venezuela, a qual está orquestrada para golpear as conquistas do povo venezuelano nos âmbitos político, econômico e social. Neste marco, a Síria condena em especial o complô golpista planejado pelas partes vinculadas com as políticas estadunidenses contra a integridade pessoal do excelentíssimo presidente Nicolás Maduro.
Ainda assim a República Árabe Síria expressa sua enérgica condenação a este tipo de conspirações estadunidenses contra a Revolução Bolivariana e afirma, uma vez, sua plena solidariedade com o povo e a liderança na Venezuela. Sublinhando que a Síria, país que mantém sólidas relações com a República Bolivariana da Venezuela que se manteve firme ante todos esses ataques, reitera estar na mesma trincheira com o povo venezuelano que defende o legado do presidente Hugo Chávez, o qual continua sob a liderança do excelentíssimo presidente Nicolás Maduro, e exige, mais uma vez, colocar fim a todas essas conspirações norte-americanas contra Venezuela, as quais contradizem com o Direito Internacional e a Carta Magna da Organização das Nações Unidas”.
É importante aclarar alguns dos êxitos do governo venezuelano, não apontados pelos sírios: inflação anual acima dos 60%; suposta escassez de medicamentos, preservativos, papel higiênico, leite, macarrão, trigo, frango, papel imprensa para a impressão de jornais etc.; supostas torturas a opositores; fechamento e perseguição a canais de rádio e TV opositores ao Chavismo etc. Muitos dos produtos fabricados no país têm matéria-prima importada. As empresas precisam que o governo libere dólares para aquisição da mesma no exterior e têm encontrado dificuldades.
Ranking liberdade de imprensa 2015
No ranking de 2015 para a liberdade de imprensa, publicado na semana passada pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), a Venezuela ocupa a posição de número 137 numa avaliação entre 180 países.
“Ano negro para os meios de comunicação venezuelanos. A crise econômica e social que sacudiu a Venezuela, em 2014, teve um impacto desastroso na liberdade de informação. As contínuas manifestações foram teatro de numerosos insultos, agressões, ameaças e detenções arbitrárias de jornalistas locais e estrangeiros, que também padeceram ante o roubo e a destruição de seu equipamento. O principal responsável foi a Guarda Nacional Bolivariana, mas alguns atos também foram cometidos por manifestantes e grupos paramilitares. A perseguição a que padecem jornalistas e meios de comunicação continuou fora das manifestações. A paisagem midiática segue estando muito polarizada entre os meios de comunicação pró-governamentais e aqueles da oposição; falta pluralismo”, sinalizou RSF.
No ano passado, também numa análise entre 180 países, a Venezuela estava na posição número 116. Em 2002, Caracas estava na posição 77 numa avaliação entre 158 nações. Após a tentativa de golpe de estado contra Hugo Chávez, e mesmo que a quantidade de nações avaliadas era menor, a coisa foi piorando. Com isso, aumentou a caçada contra a imprensa independente.
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