Quarta-feira, 18 de março de 2015 Imagem: Wikipédia / Reprodução / Creative Commons O sentimento dos mexicanos é de comoção nacio...
Quarta-feira, 18 de março de 2015
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O sentimento dos mexicanos é de comoção nacional, em virtude da demissão da jornalista Carmen Aristegui (foto 1), do programa Noticias MVS, da rádio de mesmo nome, no último fim de semana. O fato ocorreu, depois que a periodista se uniu à plataforma Mexicoleaks – voltada para receber denúncias de corrupção, principalmente em órgãos públicos –, utilizando a logomarca da emissora. Dois integrantes de seu núcleo investigativo, os jornalistas Daniel Lizárraga e Irving Huerta, foram despedidos. O que levou Aristegui a dar um ultimato à MVS para que os recontratasse, sob ameaça de deixar o cargo. Como não teve o pedido atendido, acabou sendo desligada de seu programa matutino.
“MVS não aceita o ultimato de Carmen Aristegui”, publicou o canal (foto 2).
Imagem: Twitter / Reprodução
MVS Radio no acepta el ultimátum de Carmen Aristegui http://t.co/yjpauoEb6k pic.twitter.com/QnItb8NH3H
— Noticias MVS (@NoticiasMVS) 16 março 2015
Em justificativa, MVS alegou 'abuso' administrativo de Lizárraga e Huerta, por não ter sido consultada sobre tal adesão. No dia da saída de Carmen Aristegui, pelo menos duas mil pessoas foram à sede da emissora para protestar por sua demissão e a gritar 'fora, Peña', em referência ao presidente Enrique Peña Nieto. Vários manifestantes tinham uma fita colada na boca, uma alusão à censura.
A última vez que OPINÓLOGO constatou tal comoção foi no ano passado, quando milhares de mexicanos foram às ruas protestar contra o desaparecimento com cara de sequestro, e possível assassinato, dos 43 normalistas, com a suposta participação de um cartel de drogas e forças de segurança.
Às 21h18 desta quarta-feira (18/3), uma petição criada no portal Change.org em menos de uma semana, pedindo a não demissão ou recontratação de Aristegui, já registrava 191.996 assinaturas de apoio. A cifra já é considerada um recorde para o portal na versão asteca. Existem pelo menos 60 petições em solidariedade à jornalista, entre elas a de que se candidatasse à presidente da República em 2018.
Nos últimos dias, as hashtags a favor de Aristegui - #EnDefensadeAristegui, #EnDefensadeAristegui2 e #EnDefensadeAristegui 3 (em português, em defesa de Aristegui) – lideraram as discussões no Twitter.
Líder de audiência, considerada uma voz dissidente no jornalismo, e uma referência de ética e credibilidade, a rescisão de contrato de Carmen Aristegui, também jornalista do canal CNN em Español, está sendo vista como um atentado à liberdade de imprensa e de expressão. No atual momento, sua saída está sendo mais prejudicial à emissora do que para a comunicadora, devido à onda de indignação. Só para se ter ideia do sucesso, seu programa tinha 4 horas de duração, de segunda a sexta-feira. A ONG Human Rights Watch (HRW) criticou sua saída.
“É lamentável e preocupante a demissão de Carmen Aristegui de seu programa radial, porque priva o México de uma das jornalistas de maior prestígio na América Latina, por seu rigor profissional e credibilidade na investigação de casos de abuso de poder. Esta situação gera séria preocupação pelo estado da liberdade de expressão no México”, manifestou a HRW.
Estudantes da Universidade Autônoma do México (Uam) promovem um abaixo-assinado, endereçado à reitoria, para que se ofereça a rádio institucional para que Aristegui e sua equipe possam prosseguir com seu jornalismo investigativo.
Vale lembrar que foi a equipe de Carmen Aristegui quem revelou, em novembro passado, que a luxuosa 'Casa Branca' pertencente à primeira-dama, a atriz Angélica Rivera, avaliada em mais de R$ 11 milhões em Lomas de Chapultepec, tinha sido obtida do grupo Higa, uma empreiteira que presta serviços para Enrique Peña Nieto, agora como presidente da República, e também quando era governador do estado do México. Parte do imóvel pertencia ao canal de TV Televisa e foi dado de presente a Rivera no decorrer de seu matrimônio. Por causa da repercussão negativa que o caso tomou, a artista vendeu a sua residência, cujas prestações estariam sendo pagas ainda. O feito acabou abalando a imagem do governo.
O escândalo presidencial voltou à tona com a saída de Aristegui, que está sendo considerada uma suposta 'vingança' planejada, na espera do momento apropriado para fazê-la. Note-se que Carmen jamais abordou o caso em seu programa de rádio, apenas em seu site 'Aristegui Noticias'. Sobre a demissão, o governo disse que era um problema de 'particulares' numa relação laboral, nada mais.
Atualmente, a equipe de repórteres de Aristegui, na MVS, investigava a casa do secretário de Fazenda, Luis Videgaray, supostamente, adquirida por uma taxa abaixo do mercado pela construtora supracitada.
A qualidade de seu trabalho pode ser vista pelo incômodo que causa. Reportagem do canal britânico 'BBC' informou que, na última segunda-feira (16), a hashtag #EnDefensadeAristegui2 foi a mais comentada no Twitter. Mas, de repente começou a perder a tendência, e atribuiu isso a falsos usuários ou a perfis 'fakes' de redes sociais que atuariam para derrubar assuntos que perturbam ao governo, criando outros assuntos ou até mesmo buscando que a mídia social em questão invalide tais palavras-chave.
Sobre Mexicoleaks
Nome inspirado na plataforma Wikileaks, Méxicoleaks foi criada a partir da união de diferentes veículos independentes: Animal Político; Emeequis; Más de 131; Periodistas de a Pie, Projeto sobre Organização, Desenvolvimento, Educação e Investigação (Poder); e a revista Proceso, além de Aristegui Noticias. Esta última substituiu a rádio MVS.
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