Sexta-feira, 19 de junho de 2015 Segunda comitiva formada por senadores de esquerda visitará Caracas na semana que vem O incidente ...
Sexta-feira, 19 de junho de 2015
Segunda comitiva formada por senadores de esquerda visitará Caracas na semana que vem
O incidente de ontem (18/6) na Venezuela, envolvendo senadores brasileiros deveria ser repudiado ou, no mínimo, lamentado. Em vez disso, os esquerdistas de plantão estão comemorando nas redes sociais, tachando o episódio de vexatório, e dizendo que os parlamentares não deveriam ter ido se intrometer na política de outros países.
Uma comitiva formada pelos senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Cássio Cunha (PSDB-PB), José Agripino (DEM-RN), José Medeiros (PPS-MT), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Sérgio Petecão (PSD-AC) viajou a Caracas, em missão humanitária, mas mal conseguiu sair dos arredores do aeroporto. O ônibus em que estavam foi alvo de apedrejamento durante um protesto de milícias pró-chavistas, que engarrafaram o trânsito para impedir que o comboio seguisse até a prisão de Ramo Verde, onde se encontra o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López, quem estaria em greve de fome há mais de duas semanas. Os parlamentares foram também acompanhar a situação dos outros presos políticos, o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, e o ex-prefeito de San Cristobal Daniel Ceballos.
Para completar, o túnel no qual a comitiva passaria estava fechado para limpeza. Os políticos brasileiros acreditam que tudo isso tenha sido planejado pelo governo. Após quatro horas de espera em vias próximas ao aeroporto, os senadores decidiram retornar ao Brasil.
O que esse grupo de brasileiros fez não foi nenhuma intervenção na política estrangeira. Isso está garantido no Protocolo de Ushuaia, uma das cláusulas na qual os países-membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul) submetem a fiscalização de suas democracias pelos demais do bloco.
Não permitir a visita de senadores brasileiros à penitenciária não é defesa de soberania. É ditadura mesmo!!! Significa que há algo errado!!! Se existia alguma dúvida sobre, esta acabou ontem. Em fevereiro, os ex-presidentes Andrés Pastrana (Colômbia), Felipe Calderón (México) e Sebastian Piñera (Chile) foram impedidos de visitar Leopoldo López. Todo prisioneiro tem direito a receber visitas.
E se fosse o contrário??? Se parlamentares venezuelanos tivessem vindo ao Brasil para ver de perto a situação de presos políticos???
Leopoldo López foi preso por acusações de suposta depredação ao patrimônio público, incitação à desordem pública e terrorismo, por ter participado de um protesto antigoverno em fevereiro de 2014, no qual morreram 43 manifestantes e outros 1.400 ficaram feridos em confronto com policiais e milícias pró-chavistas. Inclusive, no ano passado, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) determinou a libertação imediata do líder opositor. Mesmo assim, as autoridades venezuelanas resistem em obedecer.
A mesma gente que se solidariza com o presidente venezuelano Nicolás Maduro e que apoia a prisão de López é a que vê black blocs como heróis, mesmo que estes carreguem nas costas a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade há mais de um ano, e tenham provocado um terrorismo urbano durante a onda de protestos que tomou conta do Brasil entre 2013 e 2014.
A mesma gente que se solidariza com o presidente venezuelano Nicolás Maduro e que apoia a prisão de López é a que vê black blocs como heróis, mesmo que estes carreguem nas costas a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade há mais de um ano, e tenham provocado um terrorismo urbano durante a onda de protestos que tomou conta do Brasil entre 2013 e 2014.
Já de volta ao Senado, a comitiva pretende pedir à Casa a revisão da permanência da Venezuela ao Mercosul e a convocação do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e a do embaixador brasileiro em Caracas, Rui Pereira, para dar explicações sobre o episódio de ontem. Os parlamentares acusam Pereira de tê-los abandonado durante o protesto. O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) afirmou (vídeo), nesta sexta-feira (19), que o embaixador Rui Pereira não acompanhou os senadores por orientação do Itamaraty.
Vídeo: Senado Federal / YouTube / Reprodução
“A delegação brasileira ficou totalmente desprotegida sem a presença de alguém da embaixada, evidentemente orientada pela própria presidente da República (Dilma Rousseff), que tem simpatia ideológica, de cumplicidade, com o regime ditatorial da Venezuela”, criticou o senador Aloysio Nunes.
“A Venezuela hoje é um país que tem a imprensa cerceada, um Judiciário submisso e onde opositores podem ser presos ou mortos”, continuou o senador Aloysio Nunes.
“Quem nos critica por ter ido lá, dizendo que fomos gastar dinheiro à toa, precisa estar mais atento com os bolivarianos que existem por aqui”, observou o senador Cássio Cunha.
Para o senador Alvaro Dias, o bloqueio tratou-se de um 'atentado ao Congresso Brasileiro e à democracia'.
Senadores de esquerda querem ir a Venezuela
Senadores de esquerda querem ir a Venezuela
Para tentar apagar o 'incêndio', uma nova comitiva formada por senadores de esquerda pretende viajar a Venezuela, na próxima quinta-feira (25), para apurar o incidente. O grupo é formado pelos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Randolfe Rodrigues (Psol-AP), Roberto Requião (PMDB-PR) e Vanessa Graziottin (PcdoB-AM).
“Estes podem até ser recebidos com tapete vermelho pelo presidente Maduro. São bolivarianos, simpatizantes do regime quer querem trazer pra cá o que existe lá”, comentou o senador Cássio Cunha.
“Essa comissão não existe... São porta-vozes do Marco Aurélio Garcia (assessor da presidência da República) sem qualquer representatividade na sociedade brasileira”, declarou o senador Ronaldo Caiado.
Governo venezuelano critica visita de senadores
Governo venezuelano critica visita de senadores
Em nota, o Ministério de Relações Exteriores da Venezuela rechaçou o que chamou de 'manobra midiática' dos políticos brasileiros em tentar 'desestabilizar sua democracia, gerar confusão e conflito entre países-irmãos'. As autoridades também rejeitam a acusação de que a vida dos membros da comitiva estava em risco, e afirmaram que um grupo de 30 policiais acompanhava os senadores, conforme coordenado pela Embaixada do Brasil em Caracas. Ademais de que durante o engarrafamento, a polícia trasladava um prisioneiro vindo da Colômbia.
“Chama atenção que figuras da direita extrema, participe em golpes de estado na Venezuela, participaram de toda a agenda destes fatores de oposição internacional, sendo os autores e promotores dessa farsa midiática que busca desprestigiar a reconhecida tradição democrática da República Bolivariana da Venezuela”, manifestou o governo venezuelano.
Embora haja uma tentativa de fazer-se acreditar que a visita da primeira comitiva poderia provocar um incidente diplomático entre os governos brasileiro e venezuelano, essa mentira precisa ser explicada. Se houver um atrito, será entre o Senado e o governo venezuelano, diretamente. Apesar de o governo brasileiro ficar no meio e, oficialmente, em cima do muro, Caracas sabe muito bem que isso não tem nada a ver com Brasília. Quem quiser levar para esse lado, simplesmente, está tentando criar um ambiente de intimidação, coação e chantagem para que a situação dos presos políticos não seja questionada.
Vale lembrar que o Paraguai foi expulso do Mercosul, em 2012, sob o pretexto de ter violado os princípios democráticos defendidos pelo bloco, quando o Congresso aprovou a expulsão do então presidente Fernando Lugo. Sem Assunção na jogada, não havia mais obstáculos legais para a adesão da Venezuela ao Mercosul. Consta no livro 'Una Oveja Negra en el Poder' (em tradução literal: Uma Ovelha Negra no Poder), que narra a trajetória política do ex-presidente uruguaio José Mujica, que a exclusão do Paraguai ao bloco teria sido, supostamente, orquestrada pela presidente Dilma Rousseff. O que demonstra o quanto o Brasil se intromete na política interna de outras nações. Dois pesos, duas medidas.
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