Quinta-feira, 27 de agosto de 2015 Medidas de força As relações diplomáticas entre Bogotá e Caracas acabaram de ganhar um novo capí...
Quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Medidas de força
As relações diplomáticas entre Bogotá e Caracas acabaram de ganhar um novo capítulo, nesta quinta-feira (27/8). Pressionado por partidos políticos para que a Colômbia saísse da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o presidente Juan Manuel Santos decidiu chamar seu embaixador na Venezuela, Ricardo Lozano Forero, para consultas. Em linguagem diplomática significa um gesto de agravo e de protesto a respeito de alguma prática adotada por outro governo. Não é um rompimento de relações, porém um alerta de que isso pode acontecer.
Imagem: Twitter / Reprodução
Instrucciones a la Canciller: llamar a consultas a nuestro Embajador en Venezuela y convocar reunión extraordinaria de cancilleres de UNASUR
— Juan Manuel Santos (@JuanManSantos) 27 agosto 2015
“Instruções à chanceler: chamar a consultas ao nosso embaixador na Venezuela e convocar reunião extraordinária de chanceleres da Unasul”, contou o mandatário bogotano.
“Queremos contar ao mundo, começando pela Unasul, o que está acontecendo [na fronteira entre os dois países], porque isso é totalmente inaceitável”, continuou.
Imagem: Policía Nacional de Colombia / Reprodução
Tristeza e humilhação |
Em resposta e numa tentativa de medir forças, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também convocou seu embaixador na Colômbia, Iván Rincón, para consultas. A chanceler caraquenha, Delcy Rodríguez, falou que a Venezuela pretende rever as relações diplomáticas com a nação vizinha, ‘em razão das agressões que sofre nosso povo pelo paramilitarismo e guerra econômica’.
Deportação, xenofobia e banditismo
Há pouco mais de uma semana, o governo de Nicolás Maduro fechou a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, entre os estados de Táchira e Norte de Santander, respectivamente, por conta de um ataque contra três militares e um civil, o qual Caracas atribuiu à suposta presença de paramilitares do país vizinho em seu território. Desde então, as regiões fronteiriças encontram-se em estado de exceção, e numa atitude, supostamente, xenofóbica, pelo menos 1.071 colombianos foram deportados (fotos), entre eles 830 adultos e 241 crianças e adolescentes. Suas residências são marcadas com a letra ‘D’ de deportação para facilitar o trabalho das Forças Armadas venezuelanas, que disponibilizaram um efetivo de mais de dois mil soldados para realizar a tarefa.
Do lado colombiano, 200 integrantes da Polícia Nacional – a polícia federal de lá – têm prestado assistência a seus conterrâneos, com o empréstimo de caminhões para que possam levar seus móveis, ademais de oferecer albergue e alimentação. As imagens contidas nesta reportagem falam por si só, da forma indigna como aquelas pessoas estão sendo tratadas. Duas delas são bastante impactantes: a de um idoso sendo carregado por dois policiais e a de deportados tendo que atravessar um rio, pelo fato de o caminho por terra ter sido bloqueado.
Para que Santos tomasse tal decisão, significa que o encontro entre as ministras de Relações Exteriores María Ángela Holguín (Colômbia) e Delcy Rodríguez (Venezuela), na última quarta-feira (26), não foi nada positivo, apesar de a chanceler bogotenha dizer, em conferência de imprensa, que foi ‘frutífera’, ‘muito positiva’ e ‘uma das reuniões mais francas e realistas’ que tiveram em muito tempo. Elas também conversaram sobre o tráfico de combustíveis e a diferença de preços de mercadorias por conta da cotação do dólar nos dois países.
Rodríguez lamentou que os ‘avanços obtidos’ em reunião com sua homóloga ‘sejam frustrados pela soberba de suas autoridades’, em referência à convocação do embaixador por Bogotá.
Enquanto as autoridades bolivarianas buscam convencer que sua ação é motivada pelo ataque a quatro de seus cidadãos, o jornalista Antonio María Delgado, do diário hispano-americano ‘El Nuevo Herald’ noticia que o que ocorreu foi um suposto confronto entre facções criminosas venezuelanas: de um lado composta por militares do Exército, do outro por integrantes da Guarda Nacional, a polícia federal de lá.
“Tratou-se de uma peleja entre carteis, entre efetivos da Guarda Nacional e do Exército, e o ataque [tentativa de assassinato perpetrado por mafiosos] aconteceu, porque o civil que estava no carro estava cedendo sua casa para guardar o ‘cash’ (dinheiro em espécie)”, segundo uma fonte ao repórter supracitado.
Imagem: Policía Nacional de Colombia / Reprodução
Que legenda seria ideal para essa cena??? |
Sabe-se que o deputado venezuelano Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional e o número dois no Chavismo, é investigado por suposto nexo com o narcotráfico, de acordo com o portal espanhol ‘ABC’.
No último dia 19 de agosto, a organização Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex), nos Estados Unidos, criticou o presidente Nicolás Maduro por tentar vincular políticos da oposição a grupos paramilitares para que matassem dirigentes opositores de dentro e fora do país com o intuito de criar caos.
“(...) As irresponsáveis declarações de Nicolás Maduro não só demonstram sua insanidade mental, torpeza, senão sua falta de capacidade, que o leva a emitir declarações que colocam em evidência as mentiras que declaram. Se [ele] sabe e conhece ações delitivas para gerar caos, porq eu não mete preso aos responsáveis, senão depois que cometem os delitos? Por que não apresenta as provas publicamente? Venezuela é o único país do mundo que para salvar uma pessoa que será vítima de um suposto atentado, a colocam presa, como é o caso de Leopoldo López”, expressou a entidade, lembrando do ex-prefeito de Chacao, principal político de oposição, preso desde fevereiro de 2014 por supostos crimes de terrorismo, dano ao patrimônio público, após participar de um protesto contra o governo e que resultou em 43 mortos e mais de 1.400 feridos.
“(...) Fazemos um chamado a países como Colômbia e Estados Unidos para que condenem as declarações do regime venezuelano, onde vinculam a Álvaro Uribe, senador da Colômbia, e Marco Rubio, senador norte-americano e pré-candidato pelo Partido Republicano à presidência da República, já que não se pode permite, que neste show montado pelo regime de Maduro se vincule sem provas a líderes e funcionários irrepreensíveis de outras nações. Já basta de ficar calado ante as incongruências da revolução socialista da Venezuela, e tem que dar o tratamento que merecem como um estado foragido à margem do foro internacional”, complementou a Veppex.
Visibilidade
Nesta quinta-feira (27/8), Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano, anunciou que o Centro Democrático – um braço político do Partido de la U – denunciou o governo venezuelano na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), por conta da expulsão de seus conterrâneos.
Note-se que a reação da Venezuela ao convocar também seu embaixador se deve muito mais à exposição que o caso terá internacionalmente do que pelo protesto simbólico da Colômbia. Até então, havia uma espécie de negação da realidade, uma vez que Bogotá ainda não tinha se posicionado firmemente ante a expulsão de seus concidadãos.
O tema passa ganhar maior dimensão em organismos regionais como a Unasul e até mesmo na OEA, podendo chegar às Nações Unidas (ONU).
Há quem possa ver pela opinião pública de que Caracas, supostamente, busca com isso criar novo caos – mais do que já se tem –, por conta das eleições parlamentares previstas para o próximo dia 6 de dezembro e com uma ampla vitória da oposição.
Imagem: Policía Nacional de Colombia /
Reprodução
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Enxotados como se fossem criminosos |
A credibilidade de Santos poderia afetar ainda mais se ele não reagisse à altura. Vale lembrar que os colombianos não olvidaram sua atuação, em 2012, durante o litígio marítimo que resultou em perda territorial para a Nicarágua, por decisão da Corte Internacional de Haia.
Rompimento de relações em 2010
A última vez que as duas nações sul-americanas romperam relações foi em 2010, quando a Venezuela estabeleceu prazo de até 72 horas para que a Colômbia fechasse sua diplomacia em Caracas. Na época, Hugo Chávez era o presidente e Nicolás Maduro, o chanceler.
O então líder bolivariano era contra a presença de militares estadunidenses no país vizinho, temendo uma suposta invasão para derrocá-lo. Além disso, a Colômbia – governada por Álvaro Uribe – havia denunciado a suposta presença de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em solo venezuelano na OEA.
Os laços só foram restabelecidos após a vitória de Juan Manuel Santos como presidente, em 2010. Na ocasião dos atritos diplomáticos, ele era o ministro da Defesa de Uribe.
Mesmo com as rixas em alta, Chávez jamais seria tão xenófobo quanto seu sucessor.
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