Sexta-feira, 22 de abril de 2016 Paralogismo Imagem: Lula Marques / Agência PT / Reprodução / Creative Commons Em março pass...
Sexta-feira, 22 de abril de 2016
Paralogismo
Imagem: Lula Marques / Agência PT / Reprodução /
Creative Commons
Em março passado, Dilma Rousseff declarou que não renunciaria ao cargo |
Passada quase uma semana, milhões de brasileiros ainda tentam se recuperar de um Brasil recém-descoberto, na prática, e que funciona lá em Brasília. No último domingo (17/4), foi possível acompanhar de perto mais de 500 deputados federais trabalhando, algo raríssimo por tratar-se de um fim de semana. Eles votavam no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff que tramitava na Câmara dos Deputados. Eles simplesmente agiram como realmente são, sem teatro e sem qualquer tipo de preparação para as câmeras. Deixaram a emoção dominar a razão. Mais do que isso: deixaram o paralogismo dominar a lógica. Subverteram a razão do dever.
Durante a votação para decidir se o Senado deveria ou não julgá-la por suposto crime de responsabilidade fiscal – devido às pedaladas fiscais –, a maioria dos deputados justificou o voto em nome da família, da netinha que ia nascer, de Deus, de alguma igreja e de um monte de coisas alheias à questão, inclusive com homenagem a torturador. Este último foi o caso do deputado federal Jair Bolsonaro. Deixaram de explicar o óbvio: que estavam votando favorável à cassação do mandato, por ela ser uma economista incompetente que fod...eu a economia deste país e com a Petrobras, ao permitir a compra superfaturada, por mais de US$ 1 bilhão, de uma refinaria em Pasadena, no Texas (EUA). Como economista e presidente do conselho de administração da estatal, Dilma Rousseff deveria estar atenta a certas cláusulas comerciais que regiam o contrato de compra/venda. Por ignorar os fatos e as acusações, os parlamentares que disseram ‘sim’ ao impeachment, votaram por paralogismo, criando, involuntariamente, um raciocínio falso. O que serviu para que a petista questionasse ainda mais a legalidade do processo que enfrenta.
A votação aberta na Câmara serviu para expô-los das piores maneiras possíveis: 1) para intimidá-los a se posicionar publicamente e evitar que votassem ‘não’, se a votação fosse secreta; 2) para mostrar o nível de intelectualidade. Muitos ali pareciam não ter o português como língua nativa. Sem contar o aparente despreparo para o cargo.
Tudo isso não deveria ser uma ‘surpresa’ para o eleitor. Mas, ainda o é, porque uma coisa é pressupor. A outra é ver na prática. Como diz um dito popular: ‘é preciso ver para crer’.
Sofisma
O sofisma em questão é um conjunto de mantras criados pela presidente Dilma Rousseff e por simpatizantes do petismo, ao tentar sustentar que o processo de impeachment em curso é ‘golpe’, uma espécie de ‘quarto turno’ e ao tentar apelar para o sexismo. Como não consegue convencer a imprensa brasileira disso, utiliza a estrangeira para que suas falas repercutam no exterior e ganhem legitimidade aqui no Brasil.
Dilma Rousseff não explica sobre as pedaladas fiscais, que passaram a ser consideradas crimes desde 2000 a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ignora que o processo foi autorizado e pré-estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em vez disso, tenta, propositalmente, criar uma nova verdade para sobrepor-se aos fatos. Opta por sair pela tangente ao criticar o vice-presidente Michel Temer, a quem o acusou de conspirar contra o fim de seu mandato, depois que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) votou pelo rompimento com o governo dela no mês passado.
A simples presença do presidente da Câmara, deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante toda a fase de avaliação do impeachment, mela o processo em si, uma vez que ele é réu na Lava-Jato, operação que investiga a roubalheira na Petrobras. O parlamentar foi denunciado ao STF pelo Ministério Público Federal (MPF), que o acusou de ter recebido o equivalente a US$ 5 milhões em propinas para não interferir em contratos da Petrobras com prestadoras de serviços na construção de navios-sonda.
A rixa Cunha-Dilma já não é de hoje. No ano passado, Cunha acusou Rousseff de estar, supostamente, conspirando junto ao procurador-geral Rodrigo Janot para tentar incriminá-lo.
As atitudes de Cunha são para tanto: ele parecia, supostamente, pressioná-la. Depois que o Partido dos Trabalhadores (PT) recomendou a seus deputados para que apoiassem a sua cassação perante o Conselho de Ética da Câmara, Cunha deu prosseguimento à denúncia entregue pelos juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale. E a partir disso, votou-se pelo impeachment.
Pode até ser que o juízo no qual enfrentará seja considerado um golpe. Mas, isso não seria possível se não houvessem brechas legais e constitucionais deixadas por Dilma e Lula ao longo de gestões petistas.
Estranha-se que o PT e movimentos sociais de esquerda, por exemplo, não questionem a legalidade do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para conduzir o processo no Senado, quando ele também é investigado por, supostamente, ter se beneficiado de dinheiro de corrupção da Petrobras.
Já nem se cogita mais manter Dilma Rousseff no cargo. Nem mesmo pela ideia de um eventual parlamentarismo, cujos poderes seriam reduzidos. Porque a economia já passou a agir sob efeito ‘gangorra’. Quando o governo e ela vão mal, o dólar baixa, a bolsa de valores sobe. E vice-versa.
A saída da petista do posto não é nenhuma garantia de que o país deixará de ser regido pelo caos e pela corrupção. Afinal, o PMDB é considerado um dos supostos beneficiados no Petrolão, assim como o PT. Acreditar que com ela fora do poder não haverá mais corrupção é subverter o efeito pela causa, é criar para si um paralogismo. Mas, sonhar que com ela no cargo tudo se ajusta, é sofisma.
Inquilinismo
Como foi dito acima neste artigo, Dilma Rousseff passou a viver uma relação de inquilinismo com a imprensa internacional. Em coletiva concedida no dia 19 deste mês, reforçou a tese de que seria vítima de um suposto golpe orquestrado por opositores, e busca desacreditar o processo de impeachment e as acusações que lhe são imputadas.
“A conspiração se dá pelo fato de que a única forma de chegarem ao poder no Brasil é ocultando o fato de que esse processo de impeachment, na verdade, não é um processo de impeachment”, expressou a mandatária.
Partidos de oposição como o PMDB, PSDB, DEM, PPS, entre outros, criticaram o discurso da petista e a acusaram de tentativa se fazer de vítima para desmerecer o julgamento ao qual será submetida. É uma pena que não tenham criticado a atuação de seus deputados perante a votação do impeachment na Câmara!!!
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