Sexta-feira, 13 de maio de 2016 Imagem: Roberto Stuckert Filho / Presidência da República / Reprodução / Creative Commons Dil...
Sexta-feira, 13 de maio de 2016
Imagem: Roberto Stuckert Filho /
Presidência da República / Reprodução / Creative Commons
Dilma Rousseff na 4ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres |
“Podem me virar dos avessos. E é esse o problema. Por que eles pedem que eu renuncie? Por que eu sou mulher, frágil? Eu não sou frágil, não foi isso a minha vida. Sabe por que pedem que eu renuncie? Para evitar o imenso constrangimento de tirar uma presidenta eleita, de forma indevida, de forma ilegal, de forma criminosa”, manifestou recentemente.
Ao fazer isso, a ‘presidenta’, como gosta de ser chamada, quis envolver todas as mulheres como se o problema que enfrenta fosse delas. Só que ao fazer isso, a petista também atribuiu sua incompetência a elas. Essa é uma das características de um fisiologismo político, de um governo divisor que gosta de polarizar as coisas entre o ‘nós e eles’. Neste caso, o ‘eles contra elas’, como se todas as mulheres estivessem sendo ‘impitimadas’, como se todas elas apoiassem sua gestão. Não se trata de uma metonímia, isto é, a parte pelo todo. Trata-se de uma apropriação indevida da coletividade.
Dilma Rousseff não está em processo de deposição por ser mulher, tampouco por crime de corrupção, o que não é o caso até agora. Oficialmente, é julgada por ter, supostamente, cometido pedaladas fiscais. Mas, tacitamente, é processada pelo conjunto de suas ações e consequências no governo – política de ajuste fiscal, desemprego em alta, crise econômica, compra superfaturada da refinaria no Texas (EUA) pela Petrobras, por supostas tentativas de interferir na operação Lava-Jato – e, claro, por sua incompetência ou má gestão.
Após comunicar a decisão de o Senado afastá-la por até 180 dias, a presidente agradeceu a confiança que as mulheres lhe deram nas urnas.
Na última terça-feira (10/5), Dilma Rousseff participou da 4ª Conferência Nacional de Políticas das Mulheres (foto), em Brasília, onde aproveitou a ocasião para fazer campanha contra seu juízo político.
Para a ex-ministra da Secretaria de Política para as Mulheres Eleonora Menicucci, o impedimento contra Dilma Rousseff se trataria de um ‘golpe machista’, sendo reforçado pela decisão do presidente interino, Michel Temer (PMDB), de não ter nomeado nenhuma mulher para os seus 23 ministérios.
“O desafio maior que se coloca para nós, mulheres no Brasil, e para a toda a população brasileira, é barrar esse golpe. Esse golpe que é machista, que é sexista, que é uma tentativa de entrar pela porta dos fundos por eleições indiretas. E as mulheres sabem o que querem quando elegeram a presidenta Dilma”, afirmou a ex-ministra.
“O sentimento dentro da conferência desde ontem, antes de começar, na abertura com fala de Dilma e das representantes das mulheres lésbicas, da floresta, negras, é o sentimento de roubo, como se algo fosse subtraído de nós. Mas não vão fazer com que recuemos. As mulheres vão sonhar ainda mais e vão à frente para disputar cargos de poder agora. Somos guerreiras e vamos nos manter firmes nesta disputa”, declarou a secretária nacional de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juneia Batista.
“Tem muito deputado com medo de ter mulher no governo. Eles não conseguem acreditar no fato de ter mulher governando. Eles não conseguem aceitar ordem de mulher porque estão acostumados a mandar, a ser sempre o homem, o deputado, o presidente, o governador. Para eles é assustador ter uma mulher na presidência da República. E é muito mais pelo machismo enraizado em nossa sociedade que estarmos vendo essa crise política neste momento”, opinou a estudante de Direção e Produção de Arte da Universidade Federal de Goiás (UFG) Sidiana Soares, durante a conferência.
Para Schuma Schumaher, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), o impeachment de Dilma Rousseff afeta a todas as mulheres brasileiras: “O golpe que está sendo dado contra o governo da presidenta Dilma não atinge somente a ela, a mandatária do país, atinge a todas as mulheres brasileiras. Atinge a cada uma, em cada canto, que um dia reacendeu a sua esperança de uma casa própria, reacendeu a sua esperança de ser uma trabalhadora doméstica com os direitos trabalhistas garantidos, uma série de políticas e tantas outras que nós ainda queremos, que nós ainda lutamos para ver implementadas e que infelizmente está sendo interrompido através de uma ação golpista, uma ação que vem na contramão da história, e um golpe que vem, na verdade, atingir todas as mulheres, todo o povo brasileiro que confiou na democracia, que confia nas urnas e que confia no processo democrático”.
O pior nisso tudo, talvez, não seja ver Dilma Rousseff e sua militância apelar para o sexismo e para o preconceito. E sim, vê-lo referendado por um braço das Nações Unidas, a ONU Mulheres. Em março passado, a representante da entidade aqui no Brasil, Nadine Gasman, criticou o que chamou de ‘violência política sexista’ contra a petista.
“Como defensora dos direitos de mulheres e meninas no mundo, a ONU Mulheres condena todas as formas de violência contra as mulheres, inclusive a violência política de ordem sexista contra a presidenta da República, Dilma Rousseff. Nenhuma discordância política ou protesto pode abrir margem e/ou justificar a banalização da violência de gênero – prática patriarcal e misógina que invalida a dignidade humana.
Que o legado da democracia brasileira, considerado referência no mundo e especialmente na América Latina e Caribe, seja guia para as soluções da crise política”, expressou Nadine Gasman.
Acima de tudo, espera-se, profundamente, que esse sexismo, invocado em momento de desespero, não crie um estereótipo às mulheres em futuras eleições presidenciais.
Acima de tudo, espera-se, profundamente, que esse sexismo, invocado em momento de desespero, não crie um estereótipo às mulheres em futuras eleições presidenciais.
Sobre a continuidade do processo de impedimento
Dilma Rousseff terá o prazo de 20 dias corridos, a partir de seu afastamento, para se defender das alegações contra ela perante a Comissão Especial Processante, no Senado. As sessões serão presididas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski. Segundo o presidente do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), isso dá à presidente afastada mais transparência e imparcialidade em seu processo.
Durante o juízo político haverá o recolhimento de provas e a convocação de testemunhas de defesa e de acusação contra Dilma Rousseff. Passada essa fase, a próxima será de julgamento, no qual os senadores serão os juízes.
Embora o processo possa durar até 180 dias, o presidente da Comissão Processante – antes Comissão do Impeachment no Senado –, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), garantiu que não durará esse tempo todo.
Que futuro espera a Dilma Rousseff e ao país???
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