Quarta-feira, 22 de março de 2017 Em entrevista à rádio ‘Eldorado’, nesta quarta-feira (22/3), o fiscal do Ministério da Agricultura, P...
Quarta-feira, 22 de março de 2017
Em entrevista à rádio ‘Eldorado’, nesta quarta-feira (22/3), o fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) Daniel Gouveia Teixeira, autor da denúncia sobre o suposto esquema de propina, envolvendo fiscais da pasta e empresas frigoríficas, disse que a Polícia Federal (PF) não divulgou nem 1% do que foi descoberto, segundo o ‘Estadão’.
“Não foi mostrado nem 1% do que foi descoberto pela Polícia Federal”, contou.
Quanto a isso não resta a menor dúvida, até porque a corporação não seria tão imprudente, ao realizar a ‘maior’ operação de sua história sem evidências concretas, numa investigação iniciada em 2014. Resta saber se os 99% restantes virão a público, diante das críticas que tem recebido por ter deflagrado a operação Carne Fraca, na última sexta-feira (17), e que já traz consequências econômicas para o Brasil, com o embargo à carne tupiniquim por países importadores como China, Hong Kong, Chile e União Europeia, por exemplo.
Ao menos 33 servidores foram denunciados por suposto recebimento de propinas, para deixar passar batidas eventuais irregularidades detectadas durante fiscalizações em empresas que adulteravam carnes que já estariam podres e/ou que injetavam água para aumentar o peso das mesmas. Além de suborno em espécie, eles seriam pagos com peças de carne e botas, por exemplo. Ao que parece, o esquema favorecia a dois partidos políticos.
Foram expedidos 38 mandados de prisão temporária e preventiva, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão. Cerca de 1.100 agentes cumpriram 309 mandados judiciais em sete estados. Pelos números expressivos, pouco importa o fato de a PF ter enfatizado que esta era a ‘maior’ operação já realizada contra a corrupção.
Em nota conjunta nessa terça-feira (21), a PF e o Mapa destacaram que o desvio de conduta de 33 servidores do ministério – entre os mais de 11 mil – ‘não representa um mau funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro’, e garantiram a boa qualidade do produto nacional. Eles respondem a um processo administrativo por sua conduta em desacordo com o que determina o funcionalismo público.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, criticou, recentemente, a forma como a operação foi divulgada e o fato de a Polícia Federal, supostamente, desconhecer algumas normas técnicas e regulamentos sobre o que pode ser usado ou não por frigoríficos. Associações do agronegócio e alguns políticos têm feito o mesmo. Agora é a vez de a PF mostrar que pelo menos sua ‘carne’ é forte, para lidar com a tentativa de demonização de suas investigações e de tentarem tornar o efeito pela causa. É fato que dos 4.837 frigoríficos no país, apenas 21 são investigados, menos 1%. Não se pode generalizar a coisa, mas também não se pode permitir que a realidade seja adulterada e os supostos corruptos sejam tratados como vítimas, quando as verdadeiras vítimas seriam os consumidores.
Nesta quarta-feira (22), o ministro participou de uma fiscalização num supermercado em Brasília, ao recolher para análise oito amostras de coxa, sobrecoxa e empanados da Seara (da empresa JBS) e de salsichas da marca Italli, da empresa Peccin. Elas estão entre as citadas e/ou investigadas na operação. Os produtos apreendidos foram enviados ao Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Goiás, para análises microbiológicas.
Os 21 frigoríficos alvos da operação Carne Fraca estão proibidos de exportar. Três deles foram interditados, sendo um da BRF Brasil Foods (dona das marcas Perdigão e Sadia), em Mineiros (GO), e os outros dois da Peccin, em Curitiba (PR) e Jaraguá do Sul (SC). Os 18 restantes continuam produzindo, mas sob auditoria do Mapa.
Chile e Japão, por exemplo, não receberam carne estragada, garantiu o ministro Blairo Maggi. Até a última segunda-feira (20), a China, um dos maiores mercados para a carne brasileira, tinha sido o único país a contatar diretamente o ministério, pedindo explicações.
O 1% começa a aparecer
Daniel Teixeira, que também é delegado sindical, lotado no Paraná, alertou a PF para possível fraude em alimentos destinados à Secretaria de Estado de Educação do Paraná para a merenda escolar. Começou a desconfiar das remoções repentinas de fiscais que atuavam em grandes empresas. Cada fiscal cuida de seis a sete frigoríficos. Após sua transferência, ele passou a cuidar de somente dois, o que deu mais tempo para investigar por conta própria. Em 2014, ele passou a fiscalizar a Peccin Agroindustrial, e depois que determinou a suspensão das atividades desse frigorífico, foi afastado de suas funções pela chefe Maria do Rocio, graças a um suposto pedido feito pelo dono da empresa Idair Antônio Peccin.
Uma das testemunhas de acusação, Daiane Marcela Maciel, relatou aos agentes que durante o período que trabalho na Peccin, de agosto de 2013 a setembro de 2014, presenciou supostas irregularidades, como: uso de carnes estragadas para produzir embutidos, carnes sem rotulagem e sem refrigeração, substituição de carnes para enganar a fiscalização, uso de ácido sórbico – que é cancerígeno – para maquiar as carnes podres e fraudes em notas fiscais. Ela chegou a relatar os problemas a um dos fiscais que preferia ficar ‘jogando poker no computador’.
Imagem: Agência Brasil / Reprodução / Creative Commons
Imagem ilustrativa |
Daniel Teixeira também soube por um dos fiscais da BRF Foods (dona das marcas Sadia e Perdigão) que a empresa, supostamente, articulava a remoção do fiscal Antônio Carlos Prestes, por ele ter descoberto que o frigorífico injetava água além do permitido em frangos. A gigante das carnes foi acusada de ter pago a viagem da fiscal Maria do Rocio para Holanda, Bélgica e Alemanha, pouco depois de ela ter aprovado o aumento de velocidade no abate de aves de 12 mil por hora. O Mapa autorizava 10 mil aves por hora. Ela foi conhecer a tecnologia usada para esse sistema.
Os relatos são longos e estão sendo resumidos o máximo possível e serão publicados à medida que os fatos se tornem públicos.
As acusações contra as empresas
A BRF Brasil Foods, em Mineiros (GO), é investigada por supostas corrupção, embaraço de fiscalização internacional e nacional e tentativa de evitar suspensão de importação. A unidade produz carnes de aves, incluindo peru, e derivados.
A unidade de produção da Seara, pertencente a JBS, na cidade de Lapa (SP), é investigada por supostas irregularidades no procedimento de certificação sanitária. O local produz carne de aves e derivados.
A unidade da Peccin Agroindustrial, em Curitiba (PR), é investigada por supostas utilização de carne estragada na fabricação de salsicha e linguiça, uso de carne mecanicamente separada (cms) acima do permitido, uso de aditivos acima do limite ou de aditivos proibidos. O estabelecimento fabrica produtos cárneos, que são carnes que sofrem modificações físicas, químicas e/ou biológicas como cozimento, adição de temperos e de produtos químicos, por exemplo.
A unidade da Peccin, em Jaraguá do Sul (SC), é investigada pelos mesmos supostos delitos. Também fabrica produtos cárneos.
As demais empresas investigadas respondem por supostos crimes de corrupção, dificultar e embaraçar a fiscalização, poluição ambiental, troca de favores a fiscais, corrupção processual, não ter controle sobre a matéria prima comprada, usar matéria prima diferente da informada (exemplo: em vez de peru outras aves), injeção de água em carnes, vender produtos vencidos com etiquetas de validade adulteradas, e por aí vai...
Leia também:
Operação Carne Fraca: mais três frigoríficos são interditados pelo Ministério da Agricultura
Leia também:
Operação Carne Fraca: mais três frigoríficos são interditados pelo Ministério da Agricultura
COMMENTS