Segunda-feira, 20 de março de 2017 Presidente Michel Temer convida embaixadores para churrascaria, para mostrar confiança na carne bras...
Segunda-feira, 20 de março de 2017
Presidente Michel Temer convida embaixadores para churrascaria, para mostrar confiança na carne brasileira
Numa busca desesperada de tentar acalmar os mercados, o governo federal procurou minimizar o trabalho da Polícia Federal (PF) que resultou na deflagração da operação Carne Fraca, na última sexta-feira (17/3). As investigações, que começaram há mais de dois anos, apontaram que funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estariam envolvidos num suposto esquema de propina, que consistia em ignorar a adulteração de carnes por parte de frigoríficos. Em coletiva de imprensa que contou com a presença de representantes de 22 países importadores, na noite desse domingo (19), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comentou o fato de o órgão não ter sido informado pela corporação a respeito das investigações e que poderia ter fornecido detalhes técnicos sobre as regulamentações sanitárias vigentes, como a de que o ácido ascórbico, que é vitamina C, é permitido em carnes, como também a de que carne de cabeça de porco seria permitida para a produção de embutidos (mortadela e salsicha, por exemplo).
“Com respeito às questões da Polícia Federal, nós respeitamos as investigações, não há problema nenhum. Nós questionamos o diretor-geral da Polícia Federal que estava conosco nas reuniões, por que da não presença do Ministério da Agricultura nas investigações, por que nós não estávamos presentes para responder que cabeça de porco pode ser utilizada na produção de embutido, por que não estávamos presentes para saber que ácido ascórbico é vitamina C e pode ser utilizado nos processos. Então, o nosso comandante da Polícia Federal foi claro ao dizer o seguinte: ‘Olha, nós não comunicamos ao ministério, porque a investigação era sobre pessoas do ministério, começou como uma investigação de servidores do ministério, portanto, comunicar ao Ministério da Agricultura de uma investigação sobre elementos do ministério colocaria em risco a operação’. Eu acho que está correta a explicação. Passada essa fase, que ficou combinado hoje o seguinte, o Ministério da Agricultura e a Polícia Federal, de hoje em diante, atuarão juntos. O Ministério da Agricultura estará com seus técnicos explicando tecnicamente para os agentes da Polícia Federal o que é certo e o que é errado na visão de nossos regulamentos. O que está protegido pelos nossos regulamentos deverá ser imediatamente colocado fora, então daqui pra frente a investigação continuará, terá todo nosso apoio, mas com o amparo técnico que não houve até agora. Por exemplo, não há até esse momento laudos dos produtos que foram ditos que estavam alterados. E mais uma vez, a explicação é: como é que vou chamar um ‘anagro’ e a Agricultura pra fazer os laudos se eu não sei quem está envolvido nesse processo, então eu quero crer que a investigação de hoje pra frente tomará um outro rumo, um rumo do aspecto da investigação aliado à ciência e ao conhecimento e regulamentos que temos internamente”, minimizou Blairo Maggi.
Questionado sobre os papelões em frangos, o ministro disse que essa questão vai da narrativa que a informação foi repassada e que não poderia controlar o que as pessoas falam.
“Eu acho que essa questão [do papelão] é muito mais da forma como foi comunicada, a narrativa como foi feita. Eu não posso ter controle como as pessoas se expressam. Por exemplo, essa questão do papelão está claro no áudio, e está lá colocado, que estão se falando de embalagens, e não falando de misturar papelão nas carnes, então seria uma idiotice, uma sanidade para dizer a verdade, porque as empresas brasileiras investiram alguns milhões e milhões e milhões de dólares nos seus mercados, conquistar mercados, é mais de 10 anos para você consolidar um mercado, aí você pega uma empresa que é exportadora e vai misturar papelão na carne? Pelo amor de Deus, não dá pra aceitar esse tipo de situação. Então, a narrativa nos leva a criar até fantasias. A partir de uma fala, as redes sociais, a mídia começa, cada uma fala de uma maneira e isso vai criando uma expectativa diferente”, continuou o ministro.
Será que se a União tivesse sido comunicada sobre as investigações, os fatos viriam a público? O país começa a dar sinais de recuperação econômica, mas chama atenção que a preocupação no caso seja mais econômica do que com os supostos e eventuais danos à saúde pública provocados pela má conduta de alguns servidores públicos e empresas. Vale salientar que entre os investigados estão alguns dos maiores frigoríficos do país. Além disso, o trabalho da Polícia Federal não deve ser deslegitimado por quem deveria resguardá-lo. O ministro não comentou, por exemplo, sobre os supostos uso de água injetada para dar volume às carnes e adulteração da validade das mercadorias.
O Brasil detém 7% do mercado mundial de carnes, segundo o ministro, que é ligado ao agronegócio, setor que responde por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Imagem: Beto Barata / Presidência da República / Reprodução
O presidente Michel Temer (PMDB-SP) destacou que dos 4.837 frigoríficos existentes, somente 21 foram alvos de investigação, e que de 12 mil funcionários do Mapa, apenas 33 são acusados no suposto esquema. Numa estratégia de dar credibilidade ao produto brasileiro, o peemedebista convidou representantes de 22 países para ir a uma churrascaria (foto) no Distrito Federal. Reportagem do ‘Estadão’ informa que somente os frangos e os suínos seriam brasileiros e que os bovinos seriam, supostamente, importados da Argentina, Uruguai e Austrália. Ao menos 80 pessoas teriam sido convidadas, mas o governo federal não disse quantos confirmaram. O rodízio custava R$ 119 por pessoa.
O governo pretende realizar uma auditoria e informar quais países teriam recebido carnes de empresas investigadas na operação Carne Fraca.
Em recente nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considerou ‘lamentável’ a denúncia e enfatizou que ‘os produtores rurais têm dado uma grande contribuição ao desenvolvimento nacional. Geram emprego, renda e alimentos de qualidade para a população. Portanto, não é justo que tenham a sua imagem maculada pela ação irresponsável e criminosa de alguns’.
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