Cavalo dado se olha os dentes, sim: o papa poderia ter recusado a cruz presenteada por Evo Morales

Sábado, 11 de julho de 2015 Imagem: L'Osservatore Romano / Reprodução Eis uma mentira que precisa ser contestada: a de que ...

Sábado, 11 de julho de 2015

Imagem: L'Osservatore Romano / Reprodução

Eis uma mentira que precisa ser contestada: a de que 'cavalo dado não se olha os dentes'. Se os troianos tivessem recusado o presente que ganharam dos gregos, Troia não teria perdido a guerra. Era o que papa Francisco também deveria ter feito com aquela coisa oferecida pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, no último dia 8 de julho. O mandatário – que parece sofrer de uma distorção polarizada da realidade – o entregou um crucifixo que faz apologia ao comunismo: em formato de machado e foice. Uma profanação ao cristianismo.

A cara de espanto (vídeo) do pontífice foi a melhor, apesar de uma aparente educação em aceitá-lo. O estranho objeto teria sido criado pelo falecido padre jesuíta espanhol Luis Espinal Camps, assassinado por paramilitares, em 1980, durante a ditadura na Bolívia. O pároco seria da mesma ordem religiosa do cardeal argentino Jorge Bergoglio, hoje papa Francisco.

Vídeo: CTV / YouTube / Reprodução

O diretor de imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, tentou minimizar a polêmica em torno do tema: falou que a cruz não deveria ser encarada como uma ideologia, e sim como um 'novo sinal de diálogo muito aberto com todos para a libertação e o progresso da Bolívia', na época da ditadura.

“Não era um símbolo conhecido, nem mesmo entre os jesuítas. Porém, vem do padre Espinal, isso é certo”, sustentou o padre Lombardi.

“O papa Francisco não conhecia a obra, creio”, continuou o assessor de imprensa do Vaticano.

Não é o que pensa o bispo de São Sebastião, na Espanha, Jose Ignacio Munilla Aguirre (abaixo). 

Imagens: Twitter / Reprodução

El culmen de la soberbia es manipular a Dios al servicio de ideologías ateas... Hoy, una vez más: #CristoCrucificado pic.twitter.com/uLbPPQDAGj

— Jose Ignacio Munilla (@ObispoMunilla) 9 julho 2015

“O cúmulo da soberba é manipular Deus ao serviço das ideologias ateias. Hoje, mais uma vez, Cristo é crucificado!

¿Qué tendrá Jesucristo que, hasta quienes no creen en Él pretenden envolverse en su bandera? #EsoNoEstáBien pic.twitter.com/uGlsZ1YpN3

— Jose Ignacio Munilla (@ObispoMunilla) 9 julho 2015

Que terá Jesus Cristo, que até os que não acreditam nele pretendem envolver-se em sua bandeira??? Palavras do papa Francisco a Evo Morales: isso não é bom!'”, expressou o bispo espanhol, numa alusão de que os comunistas teriam se apropriado de um lema do cristianismo, o de ajudar os pobres.

O catolicismo e comunismo têm outra coisa em comum além da aproximação aos pobres: ambos mataram muita gente ao longo da história, e por motivos opostos: o primeiro, através da Inquisição, pela reafirmação da fé, enquanto o segundo, pela nulidade da mesma. Não se pode negar que até nisso existem aspectos semelhantes.

Morales e Francisco trocaram presentes: o primeiro deu também sua autobiografia e uma Chakana, que é uma cruz andina com quatro estrelas; já o segundo ofertou cópias de suas encíclicas e um quadro da Virgem Maria com Jesus nos braços.

Se por um lado o líder sul-americano tentou impor sua ideologia barata ao sumo sacerdote, por outro, o presente dado por Francisco poderia parecer uma tentativa conversão ou até mesmo de dominação religiosa, levando-se em conta que Morales é adepto de seitas indigenistas. Os dois aspectos precisam ser observados, não apenas um deles. Afinal de contas, o presente tem que agradar a quem está ganhando, não a quem o dá. Portanto, o governante sul-americano também teria o direito de recusar o presente. Contudo, só um dos aspectos foi abordado.

O pontífice promove um giro que começou no Equador, passou pela Bolívia e se encerra nos próximos dias no Paraguai.

O 'relógio do sul'

Não é a primeira vez que Evo Morales dá mostras de sua patologia: há pouco mais de um ano, o Congresso boliviano recebeu o 'relógio do sul', um relógio que gira o contrário, isto é, para a esquerda, no sentido anti-horário. A ordem dos números também foi invertida. Onde fica o 11 nos relógios tradicionais é um no boliviano, onde fica o 10 passou a ser o dois, e assim por diante. Sua fixação em buscar uma identidade latina e promover uma espécie de 'descolonização' o levou a tal ato de loucura.