Segunda-feira, 23 de maio de 2016 O Partido dos Trabalhadores (PT) nunca para de nos surpreender. Negativamente, é claro. Se ainda havi...
Segunda-feira, 23 de maio de 2016
O Partido dos Trabalhadores (PT) nunca para de nos surpreender. Negativamente, é claro. Se ainda havia alguma máscara, esta foi tirada por vontade própria. Numa resolução sobre a atual conjuntura política, divulgada no último dia 17 de maio, a legenda se arrepende de não ter conseguido aparelhar as Forças Armadas e a imprensa. Apesar de o documento ter sido publicado há alguns dias, só agora OPINÓLOGO teve tempo de lê-lo na íntegra para então analisar.
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”, confessou o partido num trecho do documento.
O que o PT queria??? Uma guerra civil e uma intervenção militar para defender sua gestão??? Justamente os militares que outrora deram um golpe e no qual a presidente afastada Dilma Rousseff lutou contra??? O que parece uma simples ironia é, na verdade, uma das características do bolivarianismo vigente nos países amigos do PT, como a Venezuela, por exemplo, a qual gera inveja.
O PT também gostaria de contar com uma imprensa submissa. Distorce os conceitos Estado e de governo, ao referir-se como suposto proprietário dos recursos federais. A imprensa tradicional é paga para exibir a publicidade de empresas e serviços públicos, não para falar bem do partido e do governo. Isso seria desvio de finalidade.
“A queda do governo petista também é fundamental para fragilizar alianças contra hegemônicas regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o (Mercado Comum do Sul) Mercosul além de facilitar políticas de cerco e desestabilização em processos progressistas de outros países – como Venezuela, Equador e Bolívia. Caso consolidado, este retrocesso político influirá sobre a evolução do bloco Brics, cujo potencial econômico e financeiro coloca em xeque a velha engenharia mundial das potências capitalistas”, insistiu o partido, ao considerar ‘progressistas’ os governos da Venezuela, Equador e Bolívia.
Para quem não sabe, ou não entende de economia, o Brics é um bloco de países em desenvolvimento, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, na sigla em inglês.
A ‘progressista’ Venezuela, por exemplo, lida com uma guerra de braços entre a Assembleia Nacional e o Tribunal Superior de Justiça (TSJ). Este, que é a mais alta corte do país e está aparelhado pelo chavismo, tenta interferir nas decisões do Legislativo e poderá, a qualquer momento, dissolver o Congresso, sob alegação de ‘insubordinação’, para satisfazer os caprichos e as paranoias do presidente Nicolás Maduro. Pois, a Assembleia Nacional, de maioria opositores, se recusa a cassar o mandato de três deputados que foram acusados de suposta compra de votos, o que, segundo a oposição, seria um jeito de o governo minar pouco a pouco o poder da atual legislatura. Vale frisar que desde a vigência do chavismo, nenhum parlamentar governista foi processado por compra de votos.
Há alguns dias, Maduro decretou estado de exceção, validado pelo TSJ, e prorrogou por mais 60 dias uma medida que o permite governar por decreto, sem que tenha se submeter ao escrutínio do Congresso. Ele usou como desculpa a crise financeira, uma suposta guerra econômica e para lutar contra possível golpe contra seu mandato. É possível que o processo de impeachment contra Dilma Rousseff o tenha deixado em alerta.
Maduro serviria muito mais ao país, se voltasse a ser motorista de ônibus. Como presidente, é um fracasso incontestável. Sem carisma, resta apelar para a eternização da memória de seu padrinho político, o falecido presidente Hugo Chávez, para aplacar os ânimos de uma população que enfrenta escassez de comida, medicamentos, papel higiênico e lida com uma inflação oficial de quase 200%. A estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que a inflação venezuelana alcance os 720% para este 2016. As empresas locais não conseguem comprar matéria prima para produzir alimentos e bebidas, por exemplo, porque o governo não libera os dólares para a importação.
Nações socialistas e/ou bolivarianas conseguiram chegar ao poder com o discurso de prateleira de que lutavam contra o ‘imperialismo’ na América Latina. Então, por que o presidente do Equador, Rafael Correa, no posto desde 2007, não fez por onde tornar seu país independente desse ‘imperialismo’??? Para quem não sabe, a moeda oficial em Quito é o dólar dos Estados Unidos. É isso mesmo que você está lendo!!! E desde 1998, quando o Sucre foi abolido.
O PT volta a dizer que cometeu erros, sem mencionar quais. Apenas afirmou ter agido como os demais partidos. Acusou haver uma suposta escalada de criminalização da legenda, com o intuito de impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidatasse novamente em 2018 e criticou a suposta seletividade nas investigações da Lava-Jato, operação para apurar a roubalheira na Petrobras.
“Deter o golpe é possível, urgente e necessário. São partes essenciais deste objetivo negar legitimidade ao governo ilegítimo de Temer; fazer a defesa política da presidenta Dilma e do legado dos nossos governos; defender o presidente Lula dos ataques midiáticos e judiciais que contra ele se levantam; manter a mobilização popular em alto nível; ampliar para setores da sociedade críticos aos nossos governos o diálogo em torno de uma agenda democrática e popular para o país; lutar pela absolvição da presidenta Dilma dos crimes que lhe são injustamente imputados no Congresso nacional, no Judiciário e junto aos organismos da comunidade internacional”, instou o PT à militância.
O PT ignora que Lula está sendo investigado por supostos crimes de obstrução à Justiça, para melar as investigações da Lava-Jato, e de tráfico de influência, para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiasse obras em países amigos do petismo e a empreiteiras que patrocinam suas campanhas eleitorais.
O mantra petista de que haveria um suposto ‘quarto turno’ contra Dilma Rousseff ganhou força, nessa segunda-feira (23/5), depois que a ‘Folha de São Paulo’ publicou áudios de uma conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Os diálogos foram feitos em março deste ano, semanas antes de a Câmara dos Deputados votar por autorizar o Senado a instaurar processo de impeachment contra a líder petista. No bate-papo, subentende-se que a saída de Dilma Rousseff seria uma ‘moeda de troca’, para que se pudesse tentar obstruir os avanços da Lava-Jato, operação que apura a roubalheira na Petrobras, quando o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assumisse a presidência. Jucá e Machado falam em ‘pacto nacional’, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF), para estancar o que chamou de ‘sangria’.
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