Segunda-feira, 01 de julho de 2024 Informação atualizada em 01/07/2024, às 14h14 Medicação protegeu 100% das mulheres que participaram de es...
Segunda-feira, 01 de julho de 2024
Informação atualizada em 01/07/2024, às 14h14
Informação atualizada em 01/07/2024, às 14h14
Medicação protegeu 100% das mulheres que participaram de estudo
Truvada, Descovy e Sunlenca
Imagem: Gilead - Divulgação
O início do tratamento com Sunlenca, em pacientes soropositivos, inclui comprimidos e injeções |
No mês que se celebra o Orgulho LGBT, surgiu uma notícia esperançosa na luta contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês). Um estudo sobre o lenacapavir – comercializado sob a marca Sunlenca nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e na União Europeia – apresentou excelentes resultados, tendo protegido 100% das mulheres que participaram da iniciativa. O medicamento é um candidato promissor à profilaxia pré-exposição (PrEP). Os dados foram divulgados no último dia 20 de junho.
Participaram dos ensaios clínicos 5.300 mulheres soronegativas de 28 localidades da África do Sul e de Uganda. Desse quantitativo, 2.134 participantes foram medicadas com Sunlenca, enquanto que outras 1.068 mulheres com comprimidos de Truvada (combinação de entricitabina + fumarato de tenofovir desoproxila) e mais 2.136 com Descovy (combinação de entricitabina + fumarato de tenofovir alafenamida). Todas essas três medicações são utilizadas em pacientes soropositivos e fabricadas pelo laboratório Gilead, dos Estados Unidos.
No referido estudo, houve 16 incidentes de HIV (1,69 por 100 pessoas-ano) no grupo da Truvada e 39 incidentes (2,02 por 100 pessoas-ano) no grupo que foi avaliado com Descovy. O primeiro medicamento é mais antigo, enquanto o segundo, uma versão mais recente e com menos risco de efeitos colaterais nos rins e nos ossos, por exemplo, mas que ainda não chegou em determinados países devido a questões de patentes.
Tanto a Truvada quanto o Descovy também são usados também como PrEP. No Brasil, por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente o genérico da primeira para profissionais do sexo, travestis, transexuais e homens que se relacionam com outros homens.
A profilaxia pré-exposição é um tratamento preventivo para evitar a contaminação por HIV, por meio de ingestão de um comprimido diário independentemente se o indivíduo praticou intercurso sexual em determinada data ou não. Alternativa a esse modelo é a PrEP sob demanda, que consiste no consumo de quatro comprimidos, sendo dois algumas horas antes da relação, um comprimido 24 horas após e mais outro 48 horas depois do ato.
O Sunlenca foi aprovado pela Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, em 2022. É recomendado a pessoas com HIV-1 multirresistente a outros fármacos. Estudos com lenacapavir demonstraram que, após 14 dias de uso, houve redução significativa da carga viral. O medicamento é um inibidor de capsídeo, o primeiro de sua categoria, isto é, inibe a replicação viral ao interferir na cápsula proteica onde o vírus armazena seu material genético.
O lenacapavir está disponível na forma de comprimido de 300mg e injetável de 927mg. Em pessoas soropositivas, o tratamento é semestral, começando com comprimidos e em alguns dias após, a injeção. A dose injetável é dividida em duas aplicações seguidas subcutâneas, não muito fundas, de 463,5mg cada, em locais distintos do abdômen.
A manutenção do tratamento consiste apenas nas injeções e deve ocorrer no período de duas semanas antes ou em até duas semanas após o fim do prazo. Caso o paciente demore mais do que 28 semanas desde a vez anterior, será preciso reiniciar, inclusive com o consumo de comprimidos.
Antes de continuar, é preciso deixar claro que o lenacapavir não cura o HIV em pacientes soropositivos. Concentrações de Sunlenca podem permanecer no organismo por até nove meses a partir da última aplicação. Portanto, é fundamental avaliar os riscos de interações medicamentosas com outros fármacos.
Antes de continuar, é preciso deixar claro que o lenacapavir não cura o HIV em pacientes soropositivos. Concentrações de Sunlenca podem permanecer no organismo por até nove meses a partir da última aplicação. Portanto, é fundamental avaliar os riscos de interações medicamentosas com outros fármacos.
Vale salientar que o lenacapavir, apesar da média duração semestral, não pode ser considerado vacina, pois, para isso, precisaria conter um agente biológico – parte do próprio vírus – e induzir o organismo a produzir anticorpos.
Atualmente, a única PrEP injetável da qual se tem conhecimento é o Apretude (cabotegravir sódico), produzido pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK). Na União Europeia, o cabotegravir é comercializado sob a marca Vocabria. O produto já tem registro no Brasil desde junho de 2023. O medicamento é injetado nas nádegas, com intervalo de quatro semanas entre a primeira e a segunda dose. Depois disso, o prazo entre as demais aplicações é de oito semanas – dois meses – aproximadamente. Estudos mostraram que o fármaco é 69% mais eficaz em comparação à Truvada, de uso oral.
Enquanto a Truvada começa a fazer efeito em homens a partir do oitavo dia e nas mulheres após 20 dias, Sunlenca, no estudo de PrEP, demonstrou proteger as mulheres após o sétimo dia de uso e promete ser um grande aliado na luta contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids, na sigla em inglês), entretanto o grande vilão, certamente, será seu alto preço: em consultas feitas na internet, foi possível encontrar a medicação a preço superior a US$ 20 mil.
No Brasil, por exemplo, além do SUS, é possível encontrar entricitabina + fumarato de tenofovir desoproxila em algumas farmácias. Um frasco com 30 comprimidos, que garante um mês de PrEP, pode variar de preço: um genérico ou similar custa entre R$ 160 e R$ 230, enquanto Truvada, medicamento de marca, mais de R$ 600. Todos têm a mesma eficácia.
Também vale frisar que a PrEP só ajuda a proteger contra o HIV. Não atua contra outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), tais como hepatites, sífilis, gonorreia, clamídia, herpes, papilomavírus humano (HPV) etc. Portanto, a profilaxia deve estar alinhada ao uso de preservativos e a outras recomendações de profissionais de saúde.
Estimativas de casos de HIV/aids no mundo e no Brasil
Estimativas da Unaids – escritório das Nações Unidas (ONU) para a Aids – apontam que, em 2022, havia cerca de 39 milhões de pessoas com HIV/aids em todo o mundo, sendo que 29,8 milhões estariam fazendo tratamento com antirretrovirais. No Brasil, no mesmo período, havia cerca de um milhão de pessoas soropositivas, sendo que 723 mil se tratavam contra a doença.
Do total de pacientes soropositivos no Brasil, 650 mil são do sexo masculino e outros 350 mil, do feminino, segundo o Ministério da Saúde. Os dados destacam o quanto as mulheres são negligenciadas, pois, enquanto 82% dos homens tomavam antirretrovirais, apenas 79% das mulheres recebiam tratamento em 2022.
Os recentes estudos de PrEP com Sunlenca sinalizam uma quebra de paradigma e que as mulheres foram priorizadas. Novas pesquisas deverão avaliar o potencial do medicamento como profilaxia pré-exposição no público masculino.
Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) revelam que, em 2023, havia 167.275 pessoas usando a profilaxia pré-exposição em países da América Latina e do Caribe, sendo a grande maioria, 110.427, no Brasil. Contudo, a informação contrasta com a oficial do Ministério da Saúde brasileiro, que fala em mais de 73 mil.
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